terça-feira, 28 de dezembro de 2010

FRAIBURGO DOS ANOS 60 – Parte I. (publicado no Jornal "O Catarinense em 2007).

Esse é o primeiro de uma série de artigos que pretendo escrever, tratando por um lado, Fraiburgo dos tempos passados e por outro vértice, pretendo trazer em paralelo a história de uma empresa que faz parte de minha vida, assim como fazem minha família e os que quero bem. A Trombini de hoje, Facelpa de não muito distante e a Papelose de outrora.
Tudo isso, naturalmente, sob a visão daquilo que vivi, participei, sofri, fiz a felicidade e fui feliz.
Após minha saída do Seminário, onde solidifiquei meus ensinamentos fundamentais, trabalhei em escritório e lojão, na cidade de Arroio Trinta (cidade que ainda merecerá meus particulares escritos), isso no ano de 1963. Em 1964 trabalhei com pessoas especiais pela amizade que fiz e que até hoje conservo na pessoa do Sr. Heinz Goldbach da então Casa Ruecker Ltda. De 1965 a meados de 1967 trabalhei na Perdigão S.A., sempre elaborando as planilhas de custos e onde adquiri os ótimos ensinamentos administrativos que me seguiram pela vida.
Adalberto Schmitt Burda iniciou-me na vida longe da família, deu-me a oportunidade de alçar novos vôos, foi meu mestre, meu companheiro e meu amigo. Antoine Ferrandis, um Francês excepcional, foi o detentor do conhecimento que serviu de luminar para minha vida, definindo inclusive minha opção profissional dirigida para a área da contabilidade, embora minha eterna vocação fora sempre a advocacia. Pelo Adalberto Burda fui admitido como empregado da Papelose Industrial S.A. em 17.07.1967. Naquela época essa empresa estava saindo de sua primeira e profunda crise financeira que quase a levou a falência. Na verdade a então Papelose dos tempos do Sr. Hugo Frey, Antoine Ferrandis, Francisco Wroblewski (chico da pasta) Clodelcion Bahr, Iry Fantinel, José Farias e muitos outros heróis da época, só conseguiu sobrevida graças à raça daqueles homens que tinham verdadeira veneração por aquela empresa e por aqueles patrões, de modo especial pelo Hugo Waldemar Frey.
Nós – Jaime Bramatti (serramalte) – Luiz Borges Junior – José Farias – Osnir Ribeiro – Dr. Manfredo Conrado Croso - eu e mais tarde Irineu Secchi - os solteiros da época, mais ligados às áreas administrativas, morávamos na mesma pensão do “tio Líbero” – ou a pensão da Tia Nilda, esposa do Líbero. Quanta saudade daquele ambiente familiar, da Anelda, da Leninha. Ali tínhamos o ambiente de nossas casas, era a nossa família em Fraiburgo e a dona Nilda a nossa mãe. Até nos dias de hoje a dona Nilda ainda nos chama de seus filhos. Lá tivemos muitas alegrias, muitas bebidas, muitos momentos singulares como os maravilhosos sons do bandolim do Dr. Manfredo, então engenheiro industrial da Papelose, pai de filhos quadrigêmeos que moravam em São Paulo. O violão do até hoje amigo Xanca ou a gaita do Valdemarzão, na época só possível quando das suas saída ou retorno das viagens pelas empoeiradas estradas rumo aos grandes centros. No segundo meado de 1967 o centro de Fraiburgo resumia-se à hoje Rua Arnoldo Frey, tudo em barro, muito poucos automóveis. Tanto é verdade que era muito comum fazermos os nossos passeios (na época piquenique) com todos os familiares e amigos viajando numa carroceria de caminhão, aí conduzindo todas as tralhas para as refeições, repouso, cachorro, gato e tudo mais.
O transporte das mercadorias produzidas, na época pela Papelose – René Fray e Irmão S.A. – Vinícola e mais algumas serrarias era realizado pela Liberata, Curitibanos, São Cristóvão do Sul até a BR 116, em estrada de chão, sendo que nos períodos chuvosos era obrigatório o acompanhamento de tratores até a BR 116 para auxiliar no tracionamento dos caminhões. Nos dias de chuva a atual Rua Arnoldo Frey ficava totalmente intransitável sendo que os caminhões que por aí tentavam trafegar ficavam paralisados nos atoleiros formados no meio da Rua e cuja saída só era possível após vários dias de sol. Isso acontecia até o ano de 1968 em pleno centro da cidade. Nessa época estávamos em plena guerra da invasão dos Estados Unidos no Vietnan, sendo os Vietcongs inimigos dos Estados Unidos.  Fraiburgo tornara-se conhecida na região como “Fraicong”, justamente pela alta criminalidade que por aqui grassava. Toda a semana havia alguém assassinado pelos mais variados meios imagináveis – arma de fogo – faca – porrete – nos bailes – nos bares – no meio da rua – no interior. Nos finais de semana a curiosidade era saber onde seria o “entrevero” quem morreria e quem mataria. Quem surrava e quem apanhava. O jogo de truco era a grande febre da época entre os homens. Em absolutamente todos os bares, ao anoitecer, ocorriam várias rodadas desse tipo de jogo, com altas gritarias, jogadores em pé sobre a mesa, chegando-se ao ponto de, em determinada época, ter sido terminantemente proibido pela polícia o jogo de truco na cidade de Fraiburgo. Em outros artigos voltaremos com as nevascas – as estradas – telefones – os que mandavam em Fraiburgo – as grandes brigas – a União de uma comunidade – o rompimento dessa união – a política – os candidatos – e “otras cositas más”.

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