Meus amigos e minhas amigas.
Nos últimos tempos deixei de escrever um pouco porque cansei.
Adoro escrever para deixar meu coração falar um pouco. Ultimamente esse meu coração tem sofrido bastante pela enorme saudade da minha Carolina.
Muitas pessoas tem feito muito para que meu sofrimento amainasse e estão conseguindo.
Muito obrigado meus amigos e minhas amigas que, com suas amizades, seus aconchegos, seus carinhos e seus ombros amigos, e, porque não, o amor para comigo tem me ajudado demais.
Nao demorará muito para que eu volte abrir meu coração.
Deixem-me descansar um pouco.
Abaixo transcrevo algumas linhas que escrevi por ocasião do cinquentenário da cidade de ARROIO TRINTA onde passei toda minha infância e minha adolescência.
Trata-se do livro
Arroio Trinta- Ièri, hoje e amanhã.
Histórias contadas por seus filhos e filhas.
Minhas
memórias mais distantes.
Por volta dos anos de 1946,
ou, quiçá, 1947, vêm-me à memória a minha figura, ainda bem pequenininho
sentado dentro de uma caixa, de madeira? Não sei. De papelão, quiçá? Envolto em
uma manta para abrigar-me do frio, não fustigante, mas o suficiente frio para ser
o necessário a uma criança. De que idade? Talvez. De dois anos? Provavelmente.
Vejo-me, em minhas primeiras memórias da linda Arroio Trinta dentro dessa
caixa, num entardecer maravilhoso, um céu ainda azul, no entanto numa tarde
muito fresca. O sol já lá longe no seu poente, tendo como local uma curva de um
lindo córrego localizado lá em baixo, atrás da casa da família do senhor Antônio
Nórdio, residência essa bem próxima a então Igreja Matriz da então vila de
Arroio Trinta.
Essa é uma lembrança. A
minha primeira lembrança da querida Arroio Trinta. Se esse acontecimento foi
real, não sei. Surge-me a dúvida em face de minha pequena idade, no entanto, é
muito possível que essa minha lembrança seja o retrato de uma realidade, porque
meus pais, quando em Arroio Trinta decidiram construir suas vidas, naquele
mesmo local conseguiram locar uma casa.
Outro fato que marca minhas
memórias da linda e querida Arroio Trinta está intimamente ligado ao exemplo
maior que o povo de Arroio Trinta sempre se destacou, que foi a solidariedade
humana, solidariedade essa que sempre foi a constante daquela gente, mesmo com
o passar dos tempos.
Há sessenta e cinco anos
conheço Arroio Trinta, desde o então vilarejo, que foi o berço de minha
infância de criança extremamente feliz, mas extremamente feliz.
Esses fatos que guardo como fragmentos
separados de uma história é a visão, que era absolutamente normal naquela
comuna, dos fatos de uma grande parte das donas de casa, pela falta de água
abundante em suas residências, encontravam-se à barranca dos córregos para que
pudessem lavar as roupas dos seus familiares e de suas casas. Assim também
acontecia com minha querida mãe – Alda Josefina Pelle Martins – muito conhecida
como Aldina. O local para lavar as nossas roupas que minha mãe escolhia,
juntamente com outras donas de casa, dentre elas eu lembro a dona Amábile
Berté, esposa do senhor Alberto Berté, era um límpido córrego localizado em
qualquer local, atrás e próximo à atual Prefeitura Municipal.
Nesse local reuniam-se várias senhoras, alguns
dias cinco ou seis, outros duas ou três. Havia dias onde só minha mãe e eu
estávamos lá. Eu, criança já com pouco mais de idade, algo como cinco a seis
anos, pouco mais, pouco menos. Sempre brincando com as varinhas dos galhos,
correndo de pés descalços, envolto na terra saudável do local, vestindo minha
calça curta e camisa muito surrada. Num desses dias, com a presença de várias
senhoras, lavando suas roupas e nos poucos minutos que minha mãe não ficou atenta
a mim, cai naquele riacho. Lembro-me perfeitamente, de águas límpidas, no
entanto com um volume razoável, formando uma pequena cascata entre aquelas
pedras pretas e absolutamente lisas e lá fui eu, tragado pelas águas, ora
aparecendo minhas pequenas pernas, ora meu rosto, ora meu corpo, bebendo água,
afogando-me. O alarme foi geral, os gritos estridentes de “pega ele”, erma
unânimes. Mulheres atirando-se às águas, “empurra-empurra”, meu Deus do céu,
Anjo da guarda, minha Nossa Senhora. Finalmente uma senhora, com um senso de
serenidade nos momentos de pânico, que estava mais abaixo no córrego,
colocou-se estrategicamente no centro das águas e quando lá cheguei, com toda a
facilidade, apanhou-me por uma das pernas, ergueu-me e, num tom de vitória
ergueu-me ao alto, como a mostrar seu feito heróico e acalmar minha mãe.
Levei “uns tapas no
traseiro” e aos puxões de orelhas fui obrigado a ir para casa, porque depois
viria o acerto de contas. Não me lembro, mas o acerto de contas sempre era meio
pesado para mim, porque a vara de marmelo era muito ardida quando de encontro
em nosso traseiro indefeso. Como foi maravilhosa minha época de infância na
bela e linda vila de Arroio Trinta.
A
política nos tempos da vila de Arroio Trinta.
A política na então vila de
Arroio Trinta, para mim, foi algo singular e onde aprendi o gosto por essa arte
de responsabilidade social, gosto esse que me foi transmitido pelo meu querido
pai – Reduzino Deonizio Martins – então carpinteiro e marceneiro da Arroio
Trinta.
Desde que me lembro como
gente, sempre participei, em companhia de meu pai, de fatos políticos
interessantes e que minha lembrança traz-me à memória e que bem definem a
verdadeira politica, isenta de negociatas, ausente de falcatruas, desvinculada
de qualquer roubalheira, até porque isso sequer era imaginado.
Naquele tempo e na vila de
Arroio Trinta praticava-se a política para a busca do poder e pelo prazer de
prestar os verdadeiros serviços públicos em favor do povo. Assim, ao menos, era
a minha visão de criança. Em Arroio Trinta os dois grandes partidos políticos
de minha lembrança eram o PSD (antigo Partido Social Democrata) e a UDN (antiga
União Democrática Nacional).
Por parte do PSD o grande
líder político era Verginio Biava e pela UDN a liderança maior, também de minha
lembrança, era o Dr. Francisco Karam e meu pai como um Udenista convicto era um
grande companheiro do Dr. Karam.
Orlando Zardo era o administrador
da grande empresa, não lembro corretamente se ainda era da unidade da então Ponzoni
& Bradalise e Cia. Ltda. ou da nova Perdigão S.A (atual BRF). Orlando
sempre era presença obrigatória em todos os eventos importantes, além de ser um
líder politico inconteste, no entanto, não tenho lembrança qual era a sua
bandeira politica. Era mais para ser do PSD, mas foge-me a lembrança.
Os atos políticos do meu
pai, na época, eram muito pouco ortodoxos ao meu entendimento hodierno. Minha
lembrança rompe à minha mente para fatos que muito me empolgavam. Quero
salientar que meu pai sempre foi o pai que entendo servir de exemplo para os
dias atuais. Ele a todos os eventos levava-me, fossem durante o dia, fossem nas
noites, fossem nos locais somente para homens ou não, lá sempre estava o menino
Flávio ”agarrado” às calças do Reduzino.
As propagandas políticas da
época eram feitas em grandes cartazes com a fotografia do politico, nos mesmos
moldes dos dias atuais, mas parecem-me que as fotografias dos candidatos da
época eram bem mais bonitas feitas com melhor esmero, em que pesem as
diferenças de qualidade daqueles tempos com as atuais. Talvez se deva essa
minha admiração pela minha empolgação daqueles tempos em que meu pai, sem
sombra de dúvidas, era o meu herói maior. Nas ruas eram colocadas grandes
faixas de tecido, escritas em letras garrafais e dependuradas de um poste a
outro ou entre barrancos e sustentados por grossos fios de arame.
Numa noite muito escura,
lembro-me perfeitamente, em plena efervescência política, depois de uma reunião
com muita adrenalina, com o Dr. Francisco Karam e demais correligionários, todos
saíram para contra-atacar as ações dos políticos do PSD com funções já pré-determinadas.
Lá foi meu pai, e eu atrás. Em frente à loja da Perdigão fora colocada pela
oposição uma enorme faixa de pano, comprida, larga, bonita e dependurada num
poste e no outro lado num enorme barranco. Meu pai galgou o barranco, qual um
gato, e eu atrás dele, e, depois de certificar-se com absoluta certeza de nossa
única presença, sacou de um alicate muito forte e em dois “clicks” cortou o
forte arame e lançou ao chão aquela grande propaganda “peesedista.”
Assim aconteceu com todas as
faixas dos adversários. O compromisso do meu pai foi cumprido plenamente e
assim também de todos os demais companheiros udenistas. Meu pai e eu fomos
dormir como anjos. Eu estava orgulhoso em participar disso tudo. No dia seguinte
era um exulto só por parte dos partidários da UDN e furiosos os do PSD.
Meu pai, na época, tinha uma
pequena marcenaria onde fabricava móveis de imbuia, com todos os contornos na
época e que hoje são as lembranças dos móveis antigos, tão valiosos e tão
admirados. Numa dessas épocas de política meu pai cobriu 100% das paredes da
oficina com grandes propagandas brancas com fotos do seu candidato, nada
aparecendo das velhas tábuas daquela pequena marcenaria.
Na política pela eleição do
senhor Luiz Leoni, candidato de Videira, município ao qual Arroio Trinta
pertencia, meu pai trabalhou intensamente em companhia de seus companheiros de
partido, conseguindo a vitória. Lembro-me do grande comício realizado na
localidade de Anta Gorda, dentro da cantina de vinho da família Zoller. Como
eram lindos os discursos! Como era linda a festa! Como era empolgante o clima
de “já ganhou”.
Na verdade a influência de
meu pai foi decisiva para muitas atitudes minhas no decorrer da vida. Uma delas
foi a influência pelo gosto pela política, no entanto, o mesmo gosto por essas
atividades está ainda indelevelmente gravado em meu íntimo que é o gosto pela
política séria. Aquela política que era praticada por uma plêiade de sonhadores
da UDN e que era exclusivamente o desejo da busca do melhor para os moradores
da pequena Arroio Trinta. Lá aprendi a seriedade com que se deve ter com a
prática da política. Os erros praticados eram isentos das maldades e das
falcatruas que hoje imperam. A verdadeira política que todo o brasileiro
deveria praticar com toda a intensidade é a política que naqueles tempos era
praticada nas pequenas cidades, nas pequenas vilas e que era praticada com o
coração daqueles que tudo faziam para o bem estar dos seus, dos seus vizinhos e
da sua comunidade.
Nesse mesmo campo da
política, lembro-me perfeitamente da solenidade realizada na sede do glorioso
Esporte Clube Cruzmaltino – equipe de futebol que congregava toda a comunidade Arroiotrintense.
Em dezembro de 1961 ou data um pouco antes ou um pouco depois, quando foi
comunicado ao povo a emancipação do Município de Arroio Trinta lá estava eu, no
alto dos meus quinze anos, presente, sempre na companhia de meu pai,
participando daquela data histórica, isto é, nossa Arroio Trinta passara a
condição de cidade.
Era um sorriso só no
semblante de todos. Todos nós vibrávamos com a notícia. Lembro-me perfeitamente
dos discursos inflamados dos políticos presentes e, de maneira toda especial,
do jovem político que despontava no cenário do nosso interior – Vilmar Dalagnol.
Uma voz retumbante. Um discurso empolgante. Uma postura inesquecível que muito
influenciou para minha oratória atual na prática de tribuno, necessária no júri
popular das lides forenses. Vilmar tornou-se um grande deputado, representando
todas as nossas cidades da região, principalmente as cidades interioranas da
nossa região.
Os
homens e as mulheres dos fragmentos de minha memória.
Para mim tiveram atuações
especiais na então vila de Arroio Trinta homens e mulheres que,
indubitavelmente, foram decisivas para a preservação dos hábitos de verdadeira
cidadania que caracteriza até os dias hoje de Arroio Trinta. Dentre os inúmeros
que me vem à memória, jamais Arroio Trinta poderá esquecer. Cito: Dr. Francisco
Karam, Orlando Zardo, Vergínio Biava, Padre Agostinho Rombaldi, Irio Zardo
(mais tarde), Amélia Zardo, Antônio
Zardo, Lídio Sprícigo, Natalino Lázare (ambos também mais tarde), Sadi Carvalho,
família Comelli, famílias Cevidini, Casaletti, Rotta e, de forma singular,
especialmente para mim, meu querido pai, Reduzino Dionizio Martins, e de forma mais
singular ainda a “nonna” Biava.
Doutor
Francisco José Castilho Karam.
Minhas memórias de Arroio
Trinta instigam-me constantemente para sempre escrever algo sobre uma
personalidade ímpar, um caráter a ser estampado como paradigma para todos os
políticos do Brasil e do mundo, um coração que colocava a técnica da medicina
em prol dos mais simples e a todos tratava com a mais absoluta igualdade, até
porque ele mesmo considerava-se igual aos simples, aos pequenos e aos humildes.
Esse homem (no verdadeiro
sentido da palavra) em companhia de sua esposa, sem dúvida, foram os grandes
referenciais para o então povo de Arroio Trinta. Esse homem merece todos os
títulos honoríficos e todas as honrarias outorgadas aos grandes de Arroio
Trinta – Dr. Francisco José Castilho Karam e sua esposa Lourdes Karam.
Dr. Karam e sua linda
família jamais sairão de minha memória como exemplo de família bem constituída.
O exemplo maior que sempre admirei nas minhas lembranças daquela família era
exatamente o fato do casal e suas filhas serem absolutamente iguais a nós, os
pobres. A família Karam naturalmente tratava toda a comunidade como pessoas
absolutamente iguais a eles e agiam com a simplicidade própria de todos os
arroiotrintenses.
A família Karam poderia
(como ocorre usualmente nos tempos modernos) colocar-se num patamar social
superior, o que seria natural, porque o Dr. Karam era realmente a personalidade
reverenciada por toda a população daquela comunidade. Era o médico que a todos
atendia igualmente, com dinheiro, sem dinheiro, com posses, sem posses, com
poder, sem poder. Jamais se constrangia em receber de seus clientes, alguns
mimos de gratidão sincera, como por exemplo, ovos caipiras, leitões abatidos ou
mesmo vivos, galinhas, verduras, frutas, alimentos dos mais variados tipos produzidos
pelos seus clientes e amigos agricultores, além dos quitutes, doces,
marmeladas, queijos e outros, mais outros, mais outros,
Dr. Karam foi o grande líder
politico, foi o grande pai dos pobres, foi o grande amigo dos poderosos e o
grande aliado dos que desejavam o bem de Arroio Trinta. Em seu livro “Memórias
de um médico do interior” (livro que faz parte do acervo de minha biblioteca
particular) ele retrata com absoluto realismo o grande desafio que era ser
médico do interior. Esse livro, entendo eu, deveria ser obrigatório na
residência de cada habitante de Arroio Trinta porque aí ficou o registro do que
era Arroio Trinta nos tempos de minha infância, nos idos dos anos 50 e 60.
Dona Lourdes sempre foi “aquela”
mulher que nunca aparecia, mas sempre era percebida por todos aqueles que
gostavam de Arroio Trinta. Era a mulher que minha memória reproduz como uma
linda mulher levemente escondida por trás de uma luz diáfana e próxima a uma
cortina levemente transparente onde, quando necessário a vemos e quando menos
necessário desaparece para ficar na coxia do palco dos acontecimentos que
envolviam seu marido.
Lembro-me claramente a
maneira materna com que eu e meus amigos de dez anos de idade, e, um pouco mais
ou um pouco menos, éramos tratados quando estávamos em sua casa, lá no alto do
morro, depois da igreja paroquial, bem em frente ao velho hospital de madeira
de propriedade do senhor Jacó Comelli. Era uma casa linda, de madeira, com uma
cerca também de maneira a delimita-la da rua empoeirada que era caminho para as
localidades, também salvo engano, de Santo Antônio e Gamelão. Uma casa com
paredes aplainadas e “encantilhadas” dispensando as mata-juntas. Uma pequena
área na entrada da casa e uma grande varanda atrás normalmente sombreada por
grandes árvores frutíferas e uma profusão de flores a abrilhantar aquele lar,
uma cozinha grande, salas lindas com um consultório onde o Dr. Karam atendia a
todos que emergencialmente dele necessitassem, a qualquer dia ou noite e a
qualquer hora. Lá dona Lourdes servia-nos um lanche e, ainda crianças, saímos
nós, as filhas Maria e Vera a brincar como crianças. Como era boa a nossa vida
na bela e querida Arroio Trinta.
Padre
Agostinho Rombaldi.
Padre Agostinho Rombaldi era pessoa por todos
venerada. Como padre era o verdadeiro condutor de almas, religiosamente
podíamos encontra-lo, antes das missas. Em estado de piedosa concentração,
dentro do confessionário da igreja, à disposição de todos os fiéis que
quisessem confessar. Lembro-me das missas solenes, onde as vestes sagradas eram
uma solenidade a parte. O incenso das missas instigava-me a oração, os sermões
com sábios ensinamentos e, por vezes duros para colocar as pessoas menos
desavisadas no caminho do bem. Padre Agostinho participava dos movimentos
sociais da comunidade e era padrinho de grande parte dos batizados, crismas ou
casamentos dos seus fiéis, dentre os quais foi padrinho de crisma de meu irmão Érico.
O tratamento de meu pai com o padre Agostinho era de “compadres”.
Padre Agostinho tinha um
carinho todo especial para as vocações sacerdotais. Em 1957 convidou Padre
Umberto Bragaglia para proferir uma palestra para os meninos da vila. Lá fomos
todos nós. Saí daquela palestra, realizada na velha igreja matriz, de madeira,
pequena, mas linda, totalmente empolgado para ser padre. Assim aconteceu com os
meus grandes amigos: Sírio Possenti, Gomercindo Biava, Valdomiro Comelli e mais
um ou dois colegas dos quais não mais recordo os nomes. Fomos os primeiros
seminaristas de Arroio Trinta. Na cidade de Lages fomos estudar no ano de 1958.
Nenhum se tornou padre, no entanto, eu particularmente, muito devo ao Padre
Agostinho e ao Seminário Diocesano de Lages (Instituto São João Vianey) por
tornarem-me um homem de caráter e onde aprendi o gosto pela cultura.
A visita do Bispo Diocesano
às localidades pertencentes à Mitra de Lages – Dom Daniel Hostin – era uma
festividade à parte e carregada de fortes sentimentos de religiosidade. O bispo
era aguardado na entrada da cidade. Próximo às propriedades das famílias Nava.
Em sua chegada o mesmo era recebido pelo padre Agostinho acompanhado das
pessoas mais importantes de Arroio Trinta e, sob um solidéu de cor dourada, era
conduzido solenemente até a velha e maravilhosa igreja. Durante o trajeto da
procissão, a absoluta totalidade dos arroiotrintenses acompanhava o desfile. A
saudação era sob um fortíssimo espocar de fogos de artifícios acompanhado de
gritos de saudação de “viva el vesco”
(o dialeto de vescovo = bispo) geralmente complementada de uma “bestema” “pórco can” ou substituída de outros substantivos como “Dio” – “Madóna” mas sempre precedida
do adjetivo qualificativo “pórco”.
Era uma festa. O dia era feriado, aliás, os feriados eram constantes e
determinados pela própria comunidade, como exemplo – os dias das missões.
Pessoa semelhante à Dona Lourdes
Karam, foi a Dona Terezinha, secretária eterna do Padre Agostinho e pessoa que
sempre esteve à sombra daquele piedoso padre e que muito ajudou nas obras
sociais da Paróquia de Arroio Trinta. Muito obrigado Dona Terezinha, também
madrinha do meu irmão.
Orlando
Zardo.
Orlando Zardo era o diretor
da maior empresa comercial de Arroio Trinta. Uma grande loja, onde tudo tinha,
tudo se comprava e tudo se encontrava. Nessa grande loja, aos fundos, tinha
posto de gasolina para a frota de seus caminhões e veículos, borracharia,
mecânica e entreposto, se assim podemos dizer, de compra de suínos para o
frigorífico localizado em Videira.
Orlando sempre foi o homem
com uma cultura superior, que também convivia com as pessoas de Videira em face
sua ligação com a (não sei corretamente) Perdigão ou Ponzoni & Brandalise.
Orlando foi um politico inconteste que quando falava todos ouviam. Todos
seguiam seus conselhos, fato esse que ocorria por que Orlando Zardo, já naquele
tempo, sabia entender as pessoas e dava-lhes, naturalmente, o direito de
expressarem seus pensamentos. Orlando era a figura serena, amiga e agradável
que a todos cativava. Infelizmente faleceu precocemente.
Amélia
Zardo.
Amélia Zardo, para mim, foi
e continua sendo o exemplo maior da mulher moderna, nascida para quebrar tabu e
para ser paradigma de mulher moderna. Lembro-me perfeitamente de Amélia Zardo
usado calças compridas (“slaques”), numa época que, em Arroio Trinta era
absolutamente impensado e no Brasil símbolo de ousadia. Lembro-me de Amélia
Zardo saindo de Arroio Trinta para Videira, em dias muito chuvosos, num lamaçal
difícil de ser enfrentado por habilidosos motoristas, e lá ia Amélia, ao
volante de um JEEP com tração nas quatro rodas, cabine de aço, enfrentando
aquelas estradas intransponíveis.
Ao mesmo tempo em que Amélia
era aquela mulher moderna e além do seu tempo também era a mãe afável e a
vizinha receptiva. Em minha família, de
quando em vez continuo sendo alvo de meus netos e filhos por um fato que minha
mãe contou a eles. Eu era tão sem jeito, que toda vez que minha mãe visitava a
Dona Amélia preparava-me com o cabelo penteado, de banho tomado, roupa limpa e
colocava-me diante dela. Repreendia-me
veementemente para não pedir comida na casa da vizinha. Ela me conhecia pelas
inúmeras vezes que passara vergonha na casa da dona Amélia. Pois bem. Lá íamos
para a casa do senhor Orlando Zardo. Aliás, a casa deles era na própria grande
loja, que tinha uma espécie de apartamento onde residiam.
Lá chegava eu, minha mãe e
eventualmente outras vizinhas. Eu todo lindinho (ao menos assim me considerava)
sentava-me em uma cadeira de palha e, não demorava muito, exprimia-me todo,
remexia-me todo, dava sinais que não aguentaria muito sem falar e, de pronto,
acontecendo o que minha mãe temia, eu dizia para a Dona Amélia “eu não comi pão
com ximia.” Para minha mãe caia o teto, ela simplesmente suava frio, remoía-se
internamente. Eu com a cara safada fazia-me de vítima faminta. Dona Amélia às
gargalhadas dizia-me “coitadinha da criança com fome e a mãe nem dá comida para
ele”. Eu ria malandramente e minha mãe morria de vergonha. De imediato, lá
vinha Dona Amélia com uma grande fatia de pão e uma generosa camada de doce de
alguma coisa (figo era a minha preferência) com a qual me deliciava fartamente.
Isso faz parte do folclore de minha família.
Antônio
Zardo.
Antônio Zardo, pai do Irio,
Idevaldo e Arival, era proprietário de uma grande loja de artigos domésticos
(também salvo engano quando ao objeto do negócio) localizada pouco antes do
comercio comandado pelo Sr. Orlando Zardo. No mesmo lado esquerdo de quem vai
para Salto Veloso, logo após a esquina central da cidade das vias que conduzem
para a Igreja e para o vizinho município.
Lembro-me que numa certa
noite de verão, fomos acordados com enormes estrondos, com uma claridade ímpar,
um corre-corre na rua e fomos avisados pelo meu pai para não sairmos de casa
porque ele estava indo ajudar a apagar o fogo que consumia aquela loja. Ficamos
na casa eu, minha irmã Edilamar (Neninha) e o Carlos (bem pequeninho)
apavorados pelo medo porque pela janela, sem energia elétrica, víamos as
enormes labaredas consumindo aquela loja. O prejuízo foi total. O fogo consumiu
totalmente aquela casa de comércio.
A intimidade das famílias
era tamanha que todos se consideravam praticamente como participantes da mesma
família. Não sei se por uma “má educação” minha ou por um amor ao senhor
Antônio e ele a mim, mas lembro-me que, quando eu percebia que o senhor Antônio
estava para sair em sua limusine, lá estava eu dentro do automóvel, no estado
em que me encontrava no momento, normalmente sujo, empoeirado, de pés
descalços, mas alegre por poder passear. Pois bem, Sr. Antônio recebia-me
alegre e seguia cumprindo seus compromissos dentro de Arroio Trinta com aquele
pirralho em sua companhia.
“Nonna”
Biava.
Particularmente para mim, a
“nonna” Biava foi uma pessoa extremamente singular, e, nos fragmentos de minha
memória, permanece indelevelmente gravada para todo o sempre. Na minha idade,
não sei, talvez seis, quiçá oito anos, não sei, morávamos em uma casa de
madeira próxima a Camponesa, próximo a um córrego, ao final de uma descida de
quem entra na cidade, vindo de Videira. Aí, numa casa também de madeira, com
grande “porão”, de cor azul, residia a “nonna” Biava. Minhas lembranças com a
nonna são de enorme beleza e de um sentimento de uma pureza ímpar porque minha
lembrança com ela é de muita felicidade.
Eu entrava em sua casa como
se minha casa fosse. Nonna Biava tratava-me como seu filho dileto, oferecia-me
toda vez uma deliciosa polenta “brustulada”,
levemente aquecida. Nonna só falava comigo no seu italiano do dialeto local - Vêneto.
Aliás, ao que seja de minha lembrança a então vila de Arroio Trinta era
basicamente constituída de descendentes de italianos – dialeto de Vêneto e
dialeto de Bergamo (Bergamasco). Os Bergamascos, ao que seja de minha lembrança
eram a família Possenti e outros, dentre os quais meu grande amigo dos saudosos
tempos do seminário e que até hoje muito me honra com sua amizade, Sírio
Possenti. Nossa como era difícil falar o “Bergamasco”!
Lembro-me claramente da nonna
Biava ao entardecer, na hora do “Angelis” – às dezoito horas de todo dia –
orando em voz alta, tudo em italiano, “il
padre nostro” a Ave Maria, as jaculatórias, pondo a toalha em sua grande
mesa para servir o jantar, composto basicamente de polenta posta na taboa do “polenteiro”
e cortada em fartas fatias com uma fina linha de costura. O acompanhamento da
polenta era o salame feito pela própria família e dependurado em varais no
porão da casa – “fortaia” de ovos – pão enorme, recém-feito pela nonna – café
feito em coador de pano e muito doce.
Aliás, o fazer polenta
diariamente era uma característica de praticamente todas as famílias da vila de
Arroio Trinta, e assim era na minha casa. Interessante que meu pai sempre
comprava uma “bordalesa” – (barril de madeira com capacidade para 250 litros) -
salvo engano - de vinho e, religiosamente, todos nós da família – minha mãe –
eu e meus irmãos (Edilamar – Carlos – Érico - Rogério – Márcia e Paulo
Norberto) éramos obrigados a tomar um copo de vinho na hora do almoço. Meu pai
sempre dizia que era um dos melhores remédios - um copo de vinho diariamente –
ele tinha toda a razão – com um detalhe – como era ruim aquele vinho.
Nonna Biava foi a
responsável maior, para, eu, filho de “brasileiro”, termo utilizado para
denominar o descendente de caboclo, como era o caso do meu pai, por ter
aprendido de forma natural, sem nunca ter estudado até aquela idade, o dialeto
do italiano de Vêneto. Meu pai, um “brasileiro”, minha mãe que era descendente
de italiano Veneziano, e eu falávamos fluente e naturalmente o italiano com
aquele sotaque característico, língua essa que até hoje pratico usualmente.
Nonna Biava, no meu conceito
de admiração, foi uma das santas desconhecidas do público, mas venerada por mim
desde minha idade de criança.
A Camponesa.
Meu pai, quando veio de
Iomerê para Arroio Trinta, prosseguiu com sua profissão de marceneiro e
carpinteiro, tendo construído a maioria das antigas casas de madeira do
interior de Arroio Trinta e Salto Veloso. Como marceneiro continuou sua profissão
fabricando todos os móveis residenciais possíveis, atendendo o desejo dos seus
clientes, que, na época, desejavam aqueles móveis de madeira maciça, sendo a
grande moda, os móveis de imbuia envernizados manualmente com “goma Laca”. Por
muitos anos fabricou móveis para a maioria das famílias de Arroio Trinta, tendo,
quando ainda solteiros, como ajudantes de marceneiro Sadi Carvalho (que mais
tarde torna-se sócio, proprietário de oficina de móveis e prefeito municipal) e
Antônio de Lima que também sempre exerceu a profissão de marceneiro, nos
primeiros anos em Arroio Trinta e posteriormente em Salto Veloso, onde faleceu
recentemente.
Mais tarde, tendo como
sócios Sadi Carvalho e a família Nava (salvo engano) transformaram aquela
pequena marcenaria de meu pai, numa empresa de móveis e fabrica de portas – A
CAMPONESA – cujo mercado principal era São Paulo. Para o transporte das portas
fabricadas essa sociedade comprou um dos primeiros caminhões da Mecânica Atlas,
de Videira. Tratava-se de um caminhão Mercedes-Benz (o bicudinho).
Por desentendimentos entre sócios, mais
tarde, meu pai, Reduzino Deonizio Martins, desligou-se da sociedade da
Camponesa, comprando uma velha serraria, então localizada próximo ao local,
onde está hoje estabelecida uma grande fábrica de sofás. Com o passar dos
tempos essa mesma serraria foi vendida para o senhor Gemelli (o patriarca da família)
onde começou o então grande complexo da família Gemelli.
A
Companhia Força e Luz de Arroio Trinta.
Naquele tempo da vila de
Arroio Trinta a energia elétrica era local, creio que o mesmo era em qualquer
comunidade de Santa Catarina. A usina da Força e Luz de nossa vila estava
instalada na localidade de XV de Novembro, uma localidade existente
aproximadamente ao meio do caminho que ainda liga Arroio Trinta a Iomerê Dois
quilômetros após da ponte que, como alternativa, ligava aquele trajeto à
Videira. Nesse local à esquerda de quem vai a Iomerê estava à usina. Instalada
em um pequeno edifício em alvenaria. Uma barragem no Rio XV de Novembro foi
feita pelos próprios habitantes da vila e o canal que conduzia a água foi
escavado à base da picareta. Os postes que conduziam a energia elétrica aí
gerada até as casas de Arroio Trinta eram de madeira retirada das mesmas matas.
Como era natural, em face da
precariedade das construções, a energia fornecida também era precária, no
entanto, os homens da vila uniam-se constantemente para a solução dos
problemas, geralmente quando começava a falta de energia com maior freqüência. A
grande preocupação de todos era não faltar energia para o Hospital.
Já “maiorzinho” meu pai
ensinou-me como realizar a contagem e marcação dos quilowatts marcados nos
relógios de energia. Fui encarregado e, por muito tempo, realizei a marcação e
cobrança dos valores de energia elétrica de todos os habitantes que usavam
energia. O candeeiro era a energia disponível para aqueles que mais distante
residiam.
Em determinada época meu pai
era o presidente dessa Companhia e ele fazia convocação para ajudar no conserto
da usina, a qual era prontamente atendida pelos homens. Lá iam todos para o
trabalho comunitário, mas, com mais frequência a necessidade era o trabalho de
tapar os buracos da barragem porque os furos aumentavam pela força da água. Nesse
dia era mais um dia de festas para aqueles homens. Todos se empenhavam no
trabalho e solucionavam os problemas. Mergulhavam e consertavam a barragem.
Lembro-me muito bem que depois do trabalho era uma festa para todos,
principalmente os homens mais novos. Todos tomavam banho no açude da barragem e
pescavam, uns com anzóis em varas improvisadas, outros mergulhavam sem qualquer
apetrecho e, com as mãos, debaixo d’água, retiravam grandes espécimes de
jundiás. Sadi Carvalho era o grande pescador a pegar os enormes peixes, com as
mãos, em suas tocas, de baixo d’agua.
Todos de Arroio Trinta
ajudaram financeiramente na construção da Usina, constituíram a empresa e eram
portadores de participação acionaria (se assim podemos chamar por essa
sociedade). Com a chegada da Celesc essa companhia foi incorporada por ela e
seus acionistas receberam ações da Celesc, que, com o passar dos tempos, foram
pulverizadas a valores insignificantes, cuja maioria absoluta dos antigos
proprietários nada mais recebeu. Meu pai até anos atrás ainda possuía sua
“ações” da Celesc, no entanto, ao procurar a venda das mesmas tomou
conhecimento que suas ações nada mais valiam. Coitado. Frustração absoluta. Como
era boa a nossa vida na linda vila de Arroio Trinta.
Eu,
minha mãe e Arroio Trinta.
Peço permissão ao leitor para
transcrever parte de artigo que escrevi para dois jornais, um de Videira, outro
de Fraiburgo como homenagem às mães, no seu dia em 2011. Transcrevo-o por tudo
ter acontecido na querida Arroio Trinta.
“Como eu sinto saudade de minha mãe. Era uma senhora
baixinha de olhos azulados (interessante porque às vezes eram castanhos) - como
ela era linda - minha mãe era gordinha, mas sem barriga, tipo
"tanquinho" - como era linda a minha mãe - minha mãe era o protótipo
da mulher simples, da mulher bondosa, daquela mulher que falava com os olhos
porque o olhar de minha querida mãe traduzia os seus sentimentos sem que ela
falasse – Ah! Como era linda a minha mãe.
Minha mãe muito chorava ao ver-me depois de certo tempo
sem nos encontrarmos. Chorava de amor por mim. Chorava ao ver-me chegando,
chorava ao ver-me contente. Chorava ao ver-me crescendo em minha vida
profissional – Ah! Como era linda a minha mãe - como eu gostava quando minha
mãe, orgulhosamente, dizia para as suas amigas, para as suas comadres, que eu
era o melhor filho do mundo. Como eu me envergonhava, mas no fundo muito
gostava quando a minha mãe dizia às suas amigas que eu era lindo – Ah! Como era
linda a minha mãe.
Mais tarde a experiência da vida mostrou-me que todas as
mães do mundo dizem que seus filhos são os mais belos, que seus filhos são os
melhores.
Ah! Como era linda a minha querida mãe. De quando em vez,
aos sessenta e seis anos de idade, ainda sonho acordado com minha querida mãe.
Vejo claramente, no meu passado, a imagem de minha mãe na janela a chamar-me
para voltar para casa para fazer o meu trabalho de todo o dia - mexer a polenta
- alimento esse que era a base cotidiana de nossas refeições. Ah! Quantas vezes
apanhei de minha mãe pela preguiça de "mexer mal a minha polenta" de
cada dia. Quantas vezes a "mescola" (pá de madeira própria para mexer
a polenta) foi lançada em minha cabeça - minhas costas - em meu corpo - com a
força suficiente para lembrar-me que eu era responsável para fazer com que
aquela polenta saísse no ponto exato de seu cozimento – Ah! Quanta saudade de
minha querida mãe.
Minha mãe tinha sempre perto de si o melhor instrumento
de convencimento e de imposição de respeito para com os seus pais, que era a
"milagrosa vara de marmelo". Essa vara de marmelo operava verdadeiros
milagres. Minha querida mãe não precisava falar muito comigo. Minha mãe não
precisava mandar-me muitas vezes lavar os pés, tomar o banho, assentar-me a
mesa para as refeições. Não, não precisava pedir muito. Eu não atendendo aos
seus pedidos bastava que se dirigisse rumo à milagrosa "vara de
marmelo" que eu a tudo entendia e a tudo obedecia prontamente. Tudo isso
acontecia porque eu tenho o claro conhecimento do ardor dessa vara de marmelo
oriundo dos vergões em minha bunda.
Interessante - eu e todas as crianças e jovens de minha
geração fomos criados com a "vara de marmelo", "vara de
vime" e outros instrumentos de convencimento assemelhados, colocados em
pontos estratégicos pelos nossos pais para utilizá-los nos momentos necessários
em nossos atos que não eram bem os seus atos desejados. Interessante, não temos
traumas por maus tratos. Aliás, esses instrumentos eram mais utilizados pelas
nossas mães porque era com elas que ficávamos no correr do dia todo. Ah! Como
era linda e bondosa a minha mãe - ela era tão bondosa que quando se preparava
para visitar suas comadres, colocava em mim a melhor roupinha, aquela camisinha
curtinha e apertadinha que ela mesma fizera - aquela calça curta de armarinho
comprada na "venda" - suspensórios do mesmo tecido - sem cueca
(aliás, até hoje, não tenho lembrança quando comecei usar cuecas) pés descalços
e alimentava-me bem e sob o convencimento da "vara de marmelo" para
que eu não chegasse à casa da vizinha e pedisse comida - ledo engano - pois
quando lá chegava conduzido pela mão por minha mãe - todo lindo - camisa limpa
- calça curta - suspensórios de pano com formato em "X" no peito -
pés descalços, mas limpos - cabelos molhados e bem penteados do lado esquerdo
para o direito, a primeira conversa minha era que eu não tinha comido
"chimia". Ah! Como era bacana a minha mãe. Minha mãe era o exemplo da
bondade para comigo, com meus irmãos, e com todos que a procuravam. Criei-me
numa família muito pobre, residindo nos primeiros e mais importantes anos de
minha vida na cidade de Arroio Trinta, mas minha mãe sempre soube distribuir o
seu amor como todos nós, os seus oito filhos. Cresci sentindo o sabor do amor
materno, o doce enlevo de um colo aquecido pelo amor desmesurado, a pureza das
coisas simples e a suavidade do pouco, dado com muito amor”.
Parabéns Arroio Trinta pelo
seu cinquentenário – parabéns as nascidos e moradores de Arroio Trinta –
sinto-me extremamente honrado em participar dessa data porque eu vi o marco
zero dessa efeméride, como adolescente, que muito pouco entendia a importância
do evento, no entanto participei da alegria e do orgulho de ver Arroio Trinta
ser elevada de vila para cidade.