domingo, 18 de dezembro de 2011

Fragmentos de uma memória de amor por Arroio Trinta

Meus amigos e minhas amigas.
Nos últimos tempos deixei de escrever um pouco porque cansei.
Adoro escrever para deixar meu coração falar um pouco. Ultimamente esse meu coração tem sofrido bastante pela enorme saudade da minha Carolina.
Muitas pessoas tem feito muito para que meu sofrimento amainasse e estão conseguindo.
Muito obrigado meus amigos e minhas amigas que, com suas amizades, seus aconchegos, seus carinhos e seus ombros amigos, e, porque não, o amor para comigo tem me ajudado demais.
Nao demorará muito para que eu volte abrir meu coração.
Deixem-me descansar um pouco.

Abaixo transcrevo algumas linhas que escrevi por ocasião do cinquentenário da cidade de ARROIO TRINTA onde passei toda minha infância e minha adolescência.
Trata-se do livro

Arroio Trinta- Ièri, hoje e amanhã.
Histórias contadas por seus filhos e filhas.


Minhas memórias mais distantes.

Por volta dos anos de 1946, ou, quiçá, 1947, vêm-me à memória a minha figura, ainda bem pequenininho sentado dentro de uma caixa, de madeira? Não sei. De papelão, quiçá? Envolto em uma manta para abrigar-me do frio, não fustigante, mas o suficiente frio para ser o necessário a uma criança. De que idade? Talvez. De dois anos? Provavelmente. Vejo-me, em minhas primeiras memórias da linda Arroio Trinta dentro dessa caixa, num entardecer maravilhoso, um céu ainda azul, no entanto numa tarde muito fresca. O sol já lá longe no seu poente, tendo como local uma curva de um lindo córrego localizado lá em baixo, atrás da casa da família do senhor Antônio Nórdio, residência essa bem próxima a então Igreja Matriz da então vila de Arroio Trinta.

Essa é uma lembrança. A minha primeira lembrança da querida Arroio Trinta. Se esse acontecimento foi real, não sei. Surge-me a dúvida em face de minha pequena idade, no entanto, é muito possível que essa minha lembrança seja o retrato de uma realidade, porque meus pais, quando em Arroio Trinta decidiram construir suas vidas, naquele mesmo local conseguiram locar uma casa.

Outro fato que marca minhas memórias da linda e querida Arroio Trinta está intimamente ligado ao exemplo maior que o povo de Arroio Trinta sempre se destacou, que foi a solidariedade humana, solidariedade essa que sempre foi a constante daquela gente, mesmo com o passar dos tempos.

Há sessenta e cinco anos conheço Arroio Trinta, desde o então vilarejo, que foi o berço de minha infância de criança extremamente feliz, mas extremamente feliz.

Esses fatos que guardo como fragmentos separados de uma história é a visão, que era absolutamente normal naquela comuna, dos fatos de uma grande parte das donas de casa, pela falta de água abundante em suas residências, encontravam-se à barranca dos córregos para que pudessem lavar as roupas dos seus familiares e de suas casas. Assim também acontecia com minha querida mãe – Alda Josefina Pelle Martins – muito conhecida como Aldina. O local para lavar as nossas roupas que minha mãe escolhia, juntamente com outras donas de casa, dentre elas eu lembro a dona Amábile Berté, esposa do senhor Alberto Berté, era um límpido córrego localizado em qualquer local, atrás e próximo à atual Prefeitura Municipal.

Nesse local reuniam-se várias senhoras, alguns dias cinco ou seis, outros duas ou três. Havia dias onde só minha mãe e eu estávamos lá. Eu, criança já com pouco mais de idade, algo como cinco a seis anos, pouco mais, pouco menos. Sempre brincando com as varinhas dos galhos, correndo de pés descalços, envolto na terra saudável do local, vestindo minha calça curta e camisa muito surrada. Num desses dias, com a presença de várias senhoras, lavando suas roupas e nos poucos minutos que minha mãe não ficou atenta a mim, cai naquele riacho. Lembro-me perfeitamente, de águas límpidas, no entanto com um volume razoável, formando uma pequena cascata entre aquelas pedras pretas e absolutamente lisas e lá fui eu, tragado pelas águas, ora aparecendo minhas pequenas pernas, ora meu rosto, ora meu corpo, bebendo água, afogando-me. O alarme foi geral, os gritos estridentes de “pega ele”, erma unânimes. Mulheres atirando-se às águas, “empurra-empurra”, meu Deus do céu, Anjo da guarda, minha Nossa Senhora. Finalmente uma senhora, com um senso de serenidade nos momentos de pânico, que estava mais abaixo no córrego, colocou-se estrategicamente no centro das águas e quando lá cheguei, com toda a facilidade, apanhou-me por uma das pernas, ergueu-me e, num tom de vitória ergueu-me ao alto, como a mostrar seu feito heróico e acalmar minha mãe.

Levei “uns tapas no traseiro” e aos puxões de orelhas fui obrigado a ir para casa, porque depois viria o acerto de contas. Não me lembro, mas o acerto de contas sempre era meio pesado para mim, porque a vara de marmelo era muito ardida quando de encontro em nosso traseiro indefeso. Como foi maravilhosa minha época de infância na bela e linda vila de Arroio Trinta.



A política nos tempos da vila de Arroio Trinta.

A política na então vila de Arroio Trinta, para mim, foi algo singular e onde aprendi o gosto por essa arte de responsabilidade social, gosto esse que me foi transmitido pelo meu querido pai – Reduzino Deonizio Martins – então carpinteiro e marceneiro da Arroio Trinta.

Desde que me lembro como gente, sempre participei, em companhia de meu pai, de fatos políticos interessantes e que minha lembrança traz-me à memória e que bem definem a verdadeira politica, isenta de negociatas, ausente de falcatruas, desvinculada de qualquer roubalheira, até porque isso sequer era imaginado.

Naquele tempo e na vila de Arroio Trinta praticava-se a política para a busca do poder e pelo prazer de prestar os verdadeiros serviços públicos em favor do povo. Assim, ao menos, era a minha visão de criança. Em Arroio Trinta os dois grandes partidos políticos de minha lembrança eram o PSD (antigo Partido Social Democrata) e a UDN (antiga União Democrática Nacional).

Por parte do PSD o grande líder político era Verginio Biava e pela UDN a liderança maior, também de minha lembrança, era o Dr. Francisco Karam e meu pai como um Udenista convicto era um grande companheiro do Dr. Karam.

Orlando Zardo era o administrador da grande empresa, não lembro corretamente se ainda era da unidade da então Ponzoni & Bradalise e Cia. Ltda. ou da nova Perdigão S.A (atual BRF). Orlando sempre era presença obrigatória em todos os eventos importantes, além de ser um líder politico inconteste, no entanto, não tenho lembrança qual era a sua bandeira politica. Era mais para ser do PSD, mas foge-me a lembrança.

Os atos políticos do meu pai, na época, eram muito pouco ortodoxos ao meu entendimento hodierno. Minha lembrança rompe à minha mente para fatos que muito me empolgavam. Quero salientar que meu pai sempre foi o pai que entendo servir de exemplo para os dias atuais. Ele a todos os eventos levava-me, fossem durante o dia, fossem nas noites, fossem nos locais somente para homens ou não, lá sempre estava o menino Flávio ”agarrado” às calças do Reduzino.

As propagandas políticas da época eram feitas em grandes cartazes com a fotografia do politico, nos mesmos moldes dos dias atuais, mas parecem-me que as fotografias dos candidatos da época eram bem mais bonitas feitas com melhor esmero, em que pesem as diferenças de qualidade daqueles tempos com as atuais. Talvez se deva essa minha admiração pela minha empolgação daqueles tempos em que meu pai, sem sombra de dúvidas, era o meu herói maior. Nas ruas eram colocadas grandes faixas de tecido, escritas em letras garrafais e dependuradas de um poste a outro ou entre barrancos e sustentados por grossos fios de arame.

Numa noite muito escura, lembro-me perfeitamente, em plena efervescência política, depois de uma reunião com muita adrenalina, com o Dr. Francisco Karam e demais correligionários, todos saíram para contra-atacar as ações dos políticos do PSD com funções já pré-determinadas. Lá foi meu pai, e eu atrás. Em frente à loja da Perdigão fora colocada pela oposição uma enorme faixa de pano, comprida, larga, bonita e dependurada num poste e no outro lado num enorme barranco. Meu pai galgou o barranco, qual um gato, e eu atrás dele, e, depois de certificar-se com absoluta certeza de nossa única presença, sacou de um alicate muito forte e em dois “clicks” cortou o forte arame e lançou ao chão aquela grande propaganda “peesedista.”

Assim aconteceu com todas as faixas dos adversários. O compromisso do meu pai foi cumprido plenamente e assim também de todos os demais companheiros udenistas. Meu pai e eu fomos dormir como anjos. Eu estava orgulhoso em participar disso tudo. No dia seguinte era um exulto só por parte dos partidários da UDN e furiosos os do PSD.

Meu pai, na época, tinha uma pequena marcenaria onde fabricava móveis de imbuia, com todos os contornos na época e que hoje são as lembranças dos móveis antigos, tão valiosos e tão admirados. Numa dessas épocas de política meu pai cobriu 100% das paredes da oficina com grandes propagandas brancas com fotos do seu candidato, nada aparecendo das velhas tábuas daquela pequena marcenaria.

Na política pela eleição do senhor Luiz Leoni, candidato de Videira, município ao qual Arroio Trinta pertencia, meu pai trabalhou intensamente em companhia de seus companheiros de partido, conseguindo a vitória. Lembro-me do grande comício realizado na localidade de Anta Gorda, dentro da cantina de vinho da família Zoller. Como eram lindos os discursos! Como era linda a festa! Como era empolgante o clima de “já ganhou”.

Na verdade a influência de meu pai foi decisiva para muitas atitudes minhas no decorrer da vida. Uma delas foi a influência pelo gosto pela política, no entanto, o mesmo gosto por essas atividades está ainda indelevelmente gravado em meu íntimo que é o gosto pela política séria. Aquela política que era praticada por uma plêiade de sonhadores da UDN e que era exclusivamente o desejo da busca do melhor para os moradores da pequena Arroio Trinta. Lá aprendi a seriedade com que se deve ter com a prática da política. Os erros praticados eram isentos das maldades e das falcatruas que hoje imperam. A verdadeira política que todo o brasileiro deveria praticar com toda a intensidade é a política que naqueles tempos era praticada nas pequenas cidades, nas pequenas vilas e que era praticada com o coração daqueles que tudo faziam para o bem estar dos seus, dos seus vizinhos e da sua comunidade.

Nesse mesmo campo da política, lembro-me perfeitamente da solenidade realizada na sede do glorioso Esporte Clube Cruzmaltino – equipe de futebol que congregava toda a comunidade Arroiotrintense. Em dezembro de 1961 ou data um pouco antes ou um pouco depois, quando foi comunicado ao povo a emancipação do Município de Arroio Trinta lá estava eu, no alto dos meus quinze anos, presente, sempre na companhia de meu pai, participando daquela data histórica, isto é, nossa Arroio Trinta passara a condição de cidade.

Era um sorriso só no semblante de todos. Todos nós vibrávamos com a notícia. Lembro-me perfeitamente dos discursos inflamados dos políticos presentes e, de maneira toda especial, do jovem político que despontava no cenário do nosso interior – Vilmar Dalagnol. Uma voz retumbante. Um discurso empolgante. Uma postura inesquecível que muito influenciou para minha oratória atual na prática de tribuno, necessária no júri popular das lides forenses. Vilmar tornou-se um grande deputado, representando todas as nossas cidades da região, principalmente as cidades interioranas da nossa região.



Os homens e as mulheres dos fragmentos de minha memória.

Para mim tiveram atuações especiais na então vila de Arroio Trinta homens e mulheres que, indubitavelmente, foram decisivas para a preservação dos hábitos de verdadeira cidadania que caracteriza até os dias hoje de Arroio Trinta. Dentre os inúmeros que me vem à memória, jamais Arroio Trinta poderá esquecer. Cito: Dr. Francisco Karam, Orlando Zardo, Vergínio Biava, Padre Agostinho Rombaldi, Irio Zardo (mais tarde),  Amélia Zardo, Antônio Zardo, Lídio Sprícigo, Natalino Lázare (ambos também mais tarde), Sadi Carvalho, família Comelli, famílias Cevidini, Casaletti, Rotta e, de forma singular, especialmente para mim, meu querido pai, Reduzino Dionizio Martins, e de forma mais singular ainda a “nonna” Biava.



Doutor Francisco José Castilho Karam.

Minhas memórias de Arroio Trinta instigam-me constantemente para sempre escrever algo sobre uma personalidade ímpar, um caráter a ser estampado como paradigma para todos os políticos do Brasil e do mundo, um coração que colocava a técnica da medicina em prol dos mais simples e a todos tratava com a mais absoluta igualdade, até porque ele mesmo considerava-se igual aos simples, aos pequenos e aos humildes.

Esse homem (no verdadeiro sentido da palavra) em companhia de sua esposa, sem dúvida, foram os grandes referenciais para o então povo de Arroio Trinta. Esse homem merece todos os títulos honoríficos e todas as honrarias outorgadas aos grandes de Arroio Trinta – Dr. Francisco José Castilho Karam e sua esposa Lourdes Karam.

Dr. Karam e sua linda família jamais sairão de minha memória como exemplo de família bem constituída. O exemplo maior que sempre admirei nas minhas lembranças daquela família era exatamente o fato do casal e suas filhas serem absolutamente iguais a nós, os pobres. A família Karam naturalmente tratava toda a comunidade como pessoas absolutamente iguais a eles e agiam com a simplicidade própria de todos os arroiotrintenses.

A família Karam poderia (como ocorre usualmente nos tempos modernos) colocar-se num patamar social superior, o que seria natural, porque o Dr. Karam era realmente a personalidade reverenciada por toda a população daquela comunidade. Era o médico que a todos atendia igualmente, com dinheiro, sem dinheiro, com posses, sem posses, com poder, sem poder. Jamais se constrangia em receber de seus clientes, alguns mimos de gratidão sincera, como por exemplo, ovos caipiras, leitões abatidos ou mesmo vivos, galinhas, verduras, frutas, alimentos dos mais variados tipos produzidos pelos seus clientes e amigos agricultores, além dos quitutes, doces, marmeladas, queijos e outros, mais outros, mais outros,

Dr. Karam foi o grande líder politico, foi o grande pai dos pobres, foi o grande amigo dos poderosos e o grande aliado dos que desejavam o bem de Arroio Trinta. Em seu livro “Memórias de um médico do interior” (livro que faz parte do acervo de minha biblioteca particular) ele retrata com absoluto realismo o grande desafio que era ser médico do interior. Esse livro, entendo eu, deveria ser obrigatório na residência de cada habitante de Arroio Trinta porque aí ficou o registro do que era Arroio Trinta nos tempos de minha infância, nos idos dos anos 50 e 60.

Dona Lourdes sempre foi “aquela” mulher que nunca aparecia, mas sempre era percebida por todos aqueles que gostavam de Arroio Trinta. Era a mulher que minha memória reproduz como uma linda mulher levemente escondida por trás de uma luz diáfana e próxima a uma cortina levemente transparente onde, quando necessário a vemos e quando menos necessário desaparece para ficar na coxia do palco dos acontecimentos que envolviam seu marido.

Lembro-me claramente a maneira materna com que eu e meus amigos de dez anos de idade, e, um pouco mais ou um pouco menos, éramos tratados quando estávamos em sua casa, lá no alto do morro, depois da igreja paroquial, bem em frente ao velho hospital de madeira de propriedade do senhor Jacó Comelli. Era uma casa linda, de madeira, com uma cerca também de maneira a delimita-la da rua empoeirada que era caminho para as localidades, também salvo engano, de Santo Antônio e Gamelão. Uma casa com paredes aplainadas e “encantilhadas” dispensando as mata-juntas. Uma pequena área na entrada da casa e uma grande varanda atrás normalmente sombreada por grandes árvores frutíferas e uma profusão de flores a abrilhantar aquele lar, uma cozinha grande, salas lindas com um consultório onde o Dr. Karam atendia a todos que emergencialmente dele necessitassem, a qualquer dia ou noite e a qualquer hora. Lá dona Lourdes servia-nos um lanche e, ainda crianças, saímos nós, as filhas Maria e Vera a brincar como crianças. Como era boa a nossa vida na bela e querida Arroio Trinta.



Padre Agostinho  Rombaldi.

Padre Agostinho Rombaldi era pessoa por todos venerada. Como padre era o verdadeiro condutor de almas, religiosamente podíamos encontra-lo, antes das missas. Em estado de piedosa concentração, dentro do confessionário da igreja, à disposição de todos os fiéis que quisessem confessar. Lembro-me das missas solenes, onde as vestes sagradas eram uma solenidade a parte. O incenso das missas instigava-me a oração, os sermões com sábios ensinamentos e, por vezes duros para colocar as pessoas menos desavisadas no caminho do bem. Padre Agostinho participava dos movimentos sociais da comunidade e era padrinho de grande parte dos batizados, crismas ou casamentos dos seus fiéis, dentre os quais foi padrinho de crisma de meu irmão Érico. O tratamento de meu pai com o padre Agostinho era de “compadres”.

Padre Agostinho tinha um carinho todo especial para as vocações sacerdotais. Em 1957 convidou Padre Umberto Bragaglia para proferir uma palestra para os meninos da vila. Lá fomos todos nós. Saí daquela palestra, realizada na velha igreja matriz, de madeira, pequena, mas linda, totalmente empolgado para ser padre. Assim aconteceu com os meus grandes amigos: Sírio Possenti, Gomercindo Biava, Valdomiro Comelli e mais um ou dois colegas dos quais não mais recordo os nomes. Fomos os primeiros seminaristas de Arroio Trinta. Na cidade de Lages fomos estudar no ano de 1958. Nenhum se tornou padre, no entanto, eu particularmente, muito devo ao Padre Agostinho e ao Seminário Diocesano de Lages (Instituto São João Vianey) por tornarem-me um homem de caráter e onde aprendi o gosto pela cultura.

A visita do Bispo Diocesano às localidades pertencentes à Mitra de Lages – Dom Daniel Hostin – era uma festividade à parte e carregada de fortes sentimentos de religiosidade. O bispo era aguardado na entrada da cidade. Próximo às propriedades das famílias Nava. Em sua chegada o mesmo era recebido pelo padre Agostinho acompanhado das pessoas mais importantes de Arroio Trinta e, sob um solidéu de cor dourada, era conduzido solenemente até a velha e maravilhosa igreja. Durante o trajeto da procissão, a absoluta totalidade dos arroiotrintenses acompanhava o desfile. A saudação era sob um fortíssimo espocar de fogos de artifícios acompanhado de gritos de saudação de “viva el vesco” (o dialeto de vescovo = bispo) geralmente complementada de uma “bestema” “pórco can” ou substituída de outros substantivos como “Dio” – “Madóna  mas sempre precedida do adjetivo qualificativo “pórco”. Era uma festa. O dia era feriado, aliás, os feriados eram constantes e determinados pela própria comunidade, como exemplo – os dias das missões.

Pessoa semelhante à Dona Lourdes Karam, foi a Dona Terezinha, secretária eterna do Padre Agostinho e pessoa que sempre esteve à sombra daquele piedoso padre e que muito ajudou nas obras sociais da Paróquia de Arroio Trinta. Muito obrigado Dona Terezinha, também madrinha do meu irmão.



Orlando Zardo.

Orlando Zardo era o diretor da maior empresa comercial de Arroio Trinta. Uma grande loja, onde tudo tinha, tudo se comprava e tudo se encontrava. Nessa grande loja, aos fundos, tinha posto de gasolina para a frota de seus caminhões e veículos, borracharia, mecânica e entreposto, se assim podemos dizer, de compra de suínos para o frigorífico localizado em Videira.

Orlando sempre foi o homem com uma cultura superior, que também convivia com as pessoas de Videira em face sua ligação com a (não sei corretamente) Perdigão ou Ponzoni & Brandalise. Orlando foi um politico inconteste que quando falava todos ouviam. Todos seguiam seus conselhos, fato esse que ocorria por que Orlando Zardo, já naquele tempo, sabia entender as pessoas e dava-lhes, naturalmente, o direito de expressarem seus pensamentos. Orlando era a figura serena, amiga e agradável que a todos cativava. Infelizmente faleceu precocemente.



Amélia Zardo.

Amélia Zardo, para mim, foi e continua sendo o exemplo maior da mulher moderna, nascida para quebrar tabu e para ser paradigma de mulher moderna. Lembro-me perfeitamente de Amélia Zardo usado calças compridas (“slaques”), numa época que, em Arroio Trinta era absolutamente impensado e no Brasil símbolo de ousadia. Lembro-me de Amélia Zardo saindo de Arroio Trinta para Videira, em dias muito chuvosos, num lamaçal difícil de ser enfrentado por habilidosos motoristas, e lá ia Amélia, ao volante de um JEEP com tração nas quatro rodas, cabine de aço, enfrentando aquelas estradas intransponíveis.

Ao mesmo tempo em que Amélia era aquela mulher moderna e além do seu tempo também era a mãe afável e a vizinha receptiva.  Em minha família, de quando em vez continuo sendo alvo de meus netos e filhos por um fato que minha mãe contou a eles. Eu era tão sem jeito, que toda vez que minha mãe visitava a Dona Amélia preparava-me com o cabelo penteado, de banho tomado, roupa limpa e colocava-me diante dela.  Repreendia-me veementemente para não pedir comida na casa da vizinha. Ela me conhecia pelas inúmeras vezes que passara vergonha na casa da dona Amélia. Pois bem. Lá íamos para a casa do senhor Orlando Zardo. Aliás, a casa deles era na própria grande loja, que tinha uma espécie de apartamento onde residiam.

Lá chegava eu, minha mãe e eventualmente outras vizinhas. Eu todo lindinho (ao menos assim me considerava) sentava-me em uma cadeira de palha e, não demorava muito, exprimia-me todo, remexia-me todo, dava sinais que não aguentaria muito sem falar e, de pronto, acontecendo o que minha mãe temia, eu dizia para a Dona Amélia “eu não comi pão com ximia.” Para minha mãe caia o teto, ela simplesmente suava frio, remoía-se internamente. Eu com a cara safada fazia-me de vítima faminta. Dona Amélia às gargalhadas dizia-me “coitadinha da criança com fome e a mãe nem dá comida para ele”. Eu ria malandramente e minha mãe morria de vergonha. De imediato, lá vinha Dona Amélia com uma grande fatia de pão e uma generosa camada de doce de alguma coisa (figo era a minha preferência) com a qual me deliciava fartamente. Isso faz parte do folclore de minha família.



Antônio Zardo.

Antônio Zardo, pai do Irio, Idevaldo e Arival, era proprietário de uma grande loja de artigos domésticos (também salvo engano quando ao objeto do negócio) localizada pouco antes do comercio comandado pelo Sr. Orlando Zardo. No mesmo lado esquerdo de quem vai para Salto Veloso, logo após a esquina central da cidade das vias que conduzem para a Igreja e para o vizinho município.

Lembro-me que numa certa noite de verão, fomos acordados com enormes estrondos, com uma claridade ímpar, um corre-corre na rua e fomos avisados pelo meu pai para não sairmos de casa porque ele estava indo ajudar a apagar o fogo que consumia aquela loja. Ficamos na casa eu, minha irmã Edilamar (Neninha) e o Carlos (bem pequeninho) apavorados pelo medo porque pela janela, sem energia elétrica, víamos as enormes labaredas consumindo aquela loja.  O prejuízo foi total. O fogo consumiu totalmente aquela casa de comércio.

A intimidade das famílias era tamanha que todos se consideravam praticamente como participantes da mesma família. Não sei se por uma “má educação” minha ou por um amor ao senhor Antônio e ele a mim, mas lembro-me que, quando eu percebia que o senhor Antônio estava para sair em sua limusine, lá estava eu dentro do automóvel, no estado em que me encontrava no momento, normalmente sujo, empoeirado, de pés descalços, mas alegre por poder passear. Pois bem, Sr. Antônio recebia-me alegre e seguia cumprindo seus compromissos dentro de Arroio Trinta com aquele pirralho em sua companhia.



“Nonna” Biava.

Particularmente para mim, a “nonna” Biava foi uma pessoa extremamente singular, e, nos fragmentos de minha memória, permanece indelevelmente gravada para todo o sempre. Na minha idade, não sei, talvez seis, quiçá oito anos, não sei, morávamos em uma casa de madeira próxima a Camponesa, próximo a um córrego, ao final de uma descida de quem entra na cidade, vindo de Videira. Aí, numa casa também de madeira, com grande “porão”, de cor azul, residia a “nonna” Biava. Minhas lembranças com a nonna são de enorme beleza e de um sentimento de uma pureza ímpar porque minha lembrança com ela é de muita felicidade.

Eu entrava em sua casa como se minha casa fosse. Nonna Biava tratava-me como seu filho dileto, oferecia-me toda vez uma deliciosa polenta “brustulada”, levemente aquecida. Nonna só falava comigo no seu italiano do dialeto local - Vêneto. Aliás, ao que seja de minha lembrança a então vila de Arroio Trinta era basicamente constituída de descendentes de italianos – dialeto de Vêneto e dialeto de Bergamo (Bergamasco). Os Bergamascos, ao que seja de minha lembrança eram a família Possenti e outros, dentre os quais meu grande amigo dos saudosos tempos do seminário e que até hoje muito me honra com sua amizade, Sírio Possenti. Nossa como era difícil falar o “Bergamasco”!

Lembro-me claramente da nonna Biava ao entardecer, na hora do “Angelis” – às dezoito horas de todo dia – orando em voz alta, tudo em italiano, “il padre nostro” a Ave Maria, as jaculatórias, pondo a toalha em sua grande mesa para servir o jantar, composto basicamente de polenta posta na taboa do “polenteiro” e cortada em fartas fatias com uma fina linha de costura. O acompanhamento da polenta era o salame feito pela própria família e dependurado em varais no porão da casa – “fortaia” de ovos – pão enorme, recém-feito pela nonna – café feito em coador de pano e muito doce.

Aliás, o fazer polenta diariamente era uma característica de praticamente todas as famílias da vila de Arroio Trinta, e assim era na minha casa. Interessante que meu pai sempre comprava uma “bordalesa” – (barril de madeira com capacidade para 250 litros) - salvo engano - de vinho e, religiosamente, todos nós da família – minha mãe – eu e meus irmãos (Edilamar – Carlos – Érico - Rogério – Márcia e Paulo Norberto) éramos obrigados a tomar um copo de vinho na hora do almoço. Meu pai sempre dizia que era um dos melhores remédios - um copo de vinho diariamente – ele tinha toda a razão – com um detalhe – como era ruim aquele vinho.

Nonna Biava foi a responsável maior, para, eu, filho de “brasileiro”, termo utilizado para denominar o descendente de caboclo, como era o caso do meu pai, por ter aprendido de forma natural, sem nunca ter estudado até aquela idade, o dialeto do italiano de Vêneto. Meu pai, um “brasileiro”, minha mãe que era descendente de italiano Veneziano, e eu falávamos fluente e naturalmente o italiano com aquele sotaque característico, língua essa que até hoje pratico usualmente.

Nonna Biava, no meu conceito de admiração, foi uma das santas desconhecidas do público, mas venerada por mim desde minha idade de criança.



A Camponesa.

Meu pai, quando veio de Iomerê para Arroio Trinta, prosseguiu com sua profissão de marceneiro e carpinteiro, tendo construído a maioria das antigas casas de madeira do interior de Arroio Trinta e Salto Veloso. Como marceneiro continuou sua profissão fabricando todos os móveis residenciais possíveis, atendendo o desejo dos seus clientes, que, na época, desejavam aqueles móveis de madeira maciça, sendo a grande moda, os móveis de imbuia envernizados manualmente com “goma Laca”. Por muitos anos fabricou móveis para a maioria das famílias de Arroio Trinta, tendo, quando ainda solteiros, como ajudantes de marceneiro Sadi Carvalho (que mais tarde torna-se sócio, proprietário de oficina de móveis e prefeito municipal) e Antônio de Lima que também sempre exerceu a profissão de marceneiro, nos primeiros anos em Arroio Trinta e posteriormente em Salto Veloso, onde faleceu recentemente.

Mais tarde, tendo como sócios Sadi Carvalho e a família Nava (salvo engano) transformaram aquela pequena marcenaria de meu pai, numa empresa de móveis e fabrica de portas – A CAMPONESA – cujo mercado principal era São Paulo. Para o transporte das portas fabricadas essa sociedade comprou um dos primeiros caminhões da Mecânica Atlas, de Videira. Tratava-se de um caminhão Mercedes-Benz (o bicudinho).

Por desentendimentos entre sócios, mais tarde, meu pai, Reduzino Deonizio Martins, desligou-se da sociedade da Camponesa, comprando uma velha serraria, então localizada próximo ao local, onde está hoje estabelecida uma grande fábrica de sofás. Com o passar dos tempos essa mesma serraria foi vendida para o senhor Gemelli (o patriarca da família) onde começou o então grande complexo da família Gemelli.



A Companhia Força e Luz de Arroio Trinta.

Naquele tempo da vila de Arroio Trinta a energia elétrica era local, creio que o mesmo era em qualquer comunidade de Santa Catarina. A usina da Força e Luz de nossa vila estava instalada na localidade de XV de Novembro, uma localidade existente aproximadamente ao meio do caminho que ainda liga Arroio Trinta a Iomerê Dois quilômetros após da ponte que, como alternativa, ligava aquele trajeto à Videira. Nesse local à esquerda de quem vai a Iomerê estava à usina. Instalada em um pequeno edifício em alvenaria. Uma barragem no Rio XV de Novembro foi feita pelos próprios habitantes da vila e o canal que conduzia a água foi escavado à base da picareta. Os postes que conduziam a energia elétrica aí gerada até as casas de Arroio Trinta eram de madeira retirada das mesmas matas.

Como era natural, em face da precariedade das construções, a energia fornecida também era precária, no entanto, os homens da vila uniam-se constantemente para a solução dos problemas, geralmente quando começava a falta de energia com maior freqüência. A grande preocupação de todos era não faltar energia para o Hospital.

Já “maiorzinho” meu pai ensinou-me como realizar a contagem e marcação dos quilowatts marcados nos relógios de energia. Fui encarregado e, por muito tempo, realizei a marcação e cobrança dos valores de energia elétrica de todos os habitantes que usavam energia. O candeeiro era a energia disponível para aqueles que mais distante residiam. 

Em determinada época meu pai era o presidente dessa Companhia e ele fazia convocação para ajudar no conserto da usina, a qual era prontamente atendida pelos homens. Lá iam todos para o trabalho comunitário, mas, com mais frequência a necessidade era o trabalho de tapar os buracos da barragem porque os furos aumentavam pela força da água. Nesse dia era mais um dia de festas para aqueles homens. Todos se empenhavam no trabalho e solucionavam os problemas. Mergulhavam e consertavam a barragem. Lembro-me muito bem que depois do trabalho era uma festa para todos, principalmente os homens mais novos. Todos tomavam banho no açude da barragem e pescavam, uns com anzóis em varas improvisadas, outros mergulhavam sem qualquer apetrecho e, com as mãos, debaixo d’água, retiravam grandes espécimes de jundiás. Sadi Carvalho era o grande pescador a pegar os enormes peixes, com as mãos, em suas tocas, de baixo d’agua.

Todos de Arroio Trinta ajudaram financeiramente na construção da Usina, constituíram a empresa e eram portadores de participação acionaria (se assim podemos chamar por essa sociedade). Com a chegada da Celesc essa companhia foi incorporada por ela e seus acionistas receberam ações da Celesc, que, com o passar dos tempos, foram pulverizadas a valores insignificantes, cuja maioria absoluta dos antigos proprietários nada mais recebeu. Meu pai até anos atrás ainda possuía sua “ações” da Celesc, no entanto, ao procurar a venda das mesmas tomou conhecimento que suas ações nada mais valiam. Coitado. Frustração absoluta. Como era boa a nossa vida na linda vila de Arroio Trinta.



Eu, minha mãe e Arroio Trinta.

Peço permissão ao leitor para transcrever parte de artigo que escrevi para dois jornais, um de Videira, outro de Fraiburgo como homenagem às mães, no seu dia em 2011. Transcrevo-o por tudo ter acontecido na querida Arroio Trinta.

“Como eu sinto saudade de minha mãe. Era uma senhora baixinha de olhos azulados (interessante porque às vezes eram castanhos) - como ela era linda - minha mãe era gordinha, mas sem barriga, tipo "tanquinho" - como era linda a minha mãe - minha mãe era o protótipo da mulher simples, da mulher bondosa, daquela mulher que falava com os olhos porque o olhar de minha querida mãe traduzia os seus sentimentos sem que ela falasse – Ah! Como era linda a minha mãe.

Minha mãe muito chorava ao ver-me depois de certo tempo sem nos encontrarmos. Chorava de amor por mim. Chorava ao ver-me chegando, chorava ao ver-me contente. Chorava ao ver-me crescendo em minha vida profissional – Ah! Como era linda a minha mãe - como eu gostava quando minha mãe, orgulhosamente, dizia para as suas amigas, para as suas comadres, que eu era o melhor filho do mundo. Como eu me envergonhava, mas no fundo muito gostava quando a minha mãe dizia às suas amigas que eu era lindo – Ah! Como era linda a minha mãe.

Mais tarde a experiência da vida mostrou-me que todas as mães do mundo dizem que seus filhos são os mais belos, que seus filhos são os melhores.

Ah! Como era linda a minha querida mãe. De quando em vez, aos sessenta e seis anos de idade, ainda sonho acordado com minha querida mãe. Vejo claramente, no meu passado, a imagem de minha mãe na janela a chamar-me para voltar para casa para fazer o meu trabalho de todo o dia - mexer a polenta - alimento esse que era a base cotidiana de nossas refeições. Ah! Quantas vezes apanhei de minha mãe pela preguiça de "mexer mal a minha polenta" de cada dia. Quantas vezes a "mescola" (pá de madeira própria para mexer a polenta) foi lançada em minha cabeça - minhas costas - em meu corpo - com a força suficiente para lembrar-me que eu era responsável para fazer com que aquela polenta saísse no ponto exato de seu cozimento – Ah! Quanta saudade de minha querida mãe.

Minha mãe tinha sempre perto de si o melhor instrumento de convencimento e de imposição de respeito para com os seus pais, que era a "milagrosa vara de marmelo". Essa vara de marmelo operava verdadeiros milagres. Minha querida mãe não precisava falar muito comigo. Minha mãe não precisava mandar-me muitas vezes lavar os pés, tomar o banho, assentar-me a mesa para as refeições. Não, não precisava pedir muito. Eu não atendendo aos seus pedidos bastava que se dirigisse rumo à milagrosa "vara de marmelo" que eu a tudo entendia e a tudo obedecia prontamente. Tudo isso acontecia porque eu tenho o claro conhecimento do ardor dessa vara de marmelo oriundo dos vergões em minha bunda.

Interessante - eu e todas as crianças e jovens de minha geração fomos criados com a "vara de marmelo", "vara de vime" e outros instrumentos de convencimento assemelhados, colocados em pontos estratégicos pelos nossos pais para utilizá-los nos momentos necessários em nossos atos que não eram bem os seus atos desejados. Interessante, não temos traumas por maus tratos. Aliás, esses instrumentos eram mais utilizados pelas nossas mães porque era com elas que ficávamos no correr do dia todo. Ah! Como era linda e bondosa a minha mãe - ela era tão bondosa que quando se preparava para visitar suas comadres, colocava em mim a melhor roupinha, aquela camisinha curtinha e apertadinha que ela mesma fizera - aquela calça curta de armarinho comprada na "venda" - suspensórios do mesmo tecido - sem cueca (aliás, até hoje, não tenho lembrança quando comecei usar cuecas) pés descalços e alimentava-me bem e sob o convencimento da "vara de marmelo" para que eu não chegasse à casa da vizinha e pedisse comida - ledo engano - pois quando lá chegava conduzido pela mão por minha mãe - todo lindo - camisa limpa - calça curta - suspensórios de pano com formato em "X" no peito - pés descalços, mas limpos - cabelos molhados e bem penteados do lado esquerdo para o direito, a primeira conversa minha era que eu não tinha comido "chimia". Ah! Como era bacana a minha mãe. Minha mãe era o exemplo da bondade para comigo, com meus irmãos, e com todos que a procuravam. Criei-me numa família muito pobre, residindo nos primeiros e mais importantes anos de minha vida na cidade de Arroio Trinta, mas minha mãe sempre soube distribuir o seu amor como todos nós, os seus oito filhos. Cresci sentindo o sabor do amor materno, o doce enlevo de um colo aquecido pelo amor desmesurado, a pureza das coisas simples e a suavidade do pouco, dado com muito amor”.

Parabéns Arroio Trinta pelo seu cinquentenário – parabéns as nascidos e moradores de Arroio Trinta – sinto-me extremamente honrado em participar dessa data porque eu vi o marco zero dessa efeméride, como adolescente, que muito pouco entendia a importância do evento, no entanto participei da alegria e do orgulho de ver Arroio Trinta ser elevada de vila para cidade.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CORRUPTOS!! FORA - lição número UM.

Todo o ser humano, pela sua própria essência, segundo os ensinamentos da doutrina cristã, foi criado  "à imagem e semelhança de Deus". Esses ensinamentos são os constantes dos ditames estabelecidos na doutrina cristã, respeitados, no entanto, aqueles que pensam de modo diverso, porquanto aqui não queremos abordar assuntos dogmáticos de qualquer ordem doutrinária, mas sim, somente registrar o fato que acreditamos que todo o ser humano nasce com o "gens", se assim podemos chamar, para ser bom. Torna-se, porém, bom - mau - perverso - maldoso - frio - sentimental em face do meio ambiente em que é criado porque seus pais, professores, vizinhos, amigos e outros assim o influenciam. Seria o exemplo metafórico do pecado original.
Esses exemplos personalíssimos os vemos em todos as pessoas, mas, talvez em função do múnus do exercício da função pública, o político é o protótipo do exemplo estigmatizado do qualificativo pejorativo "corrupto".  Vemos às claras que na Casa Legislativa, no poder executivo e, por absurdo que realmente seja, também isso ocorre no Poder Judiciário de nossa Nação brasileira.
Ainda podemos afirmar que a maioria dos políticos não esteja assim enquadrada e isso é facilmente possível de verificar. O exemplo é a Câmara dos Deputados Federais que é composta de 513 deputados e, com absoluta segurança, podemos afirmar que naquela Casa legislativa temos Deputados bons, honestos e que bem representam seus eleitores no Congresso Nacional.
A corrupção com os políticos em geral recebe toda uma carga de informações televisivas, via radio, jornais, periódicos e um sem fim de outros meios de comunicação e nos induzem a gravar  no subconsciente que se é político, é corrupto, é ladrão do erário publico. Os exemplos grassam nessas Casas deixando-nos horrorizados, descrentes, revoltados, achando que tudo está perdido. Isso é uma realidade incontestável e repugnante quando vemos cidadãos revestidos de outorgas concedidas pelo povo para o exercício de funções em nome desse mesmo povo e dessas  mesmas funções utilizarem-se em proveito próprio e locupletarem-se do modo despudorado.
Esses políticos, executivos, empresários, trabalhadores e toda uma outra gama de profissionais assaltam, quais reles ladrões, aquilo que é do povo, destinados aos miseráveis, aos enfermos, aos famintos aos desabrigados. Esses campeiam em nosso meio de forma desavergonhada. Quando digo em nosso meio, digo em Brasília, no Brasil inteiro, em Fraiburgo. No Brasil e nos nossos centros políticos tem infindáveis exemplos dos - mensaleiros - sangues-sugas - dos juízes Nicolau - dos mensaleiros do Dem - dos juízes vendedores de sentenças - das varias dezenas ou centenas de operações policiais. Vemos diariamente a policia federal, com autorizações judiciais prendendo e levando algemados corruptos, ladrões e outros vermes que nos repugnam quando os vemos nos noticiosos.
A leniência do governo Lula com esse tipo de corrupção foi revoltante porquanto sob o manto protetor do poderoso poder presidencial tudo podia e a todos os amigos do "rei" era permitido. Vemos hoje, enojados, esses ladrões do dinheiro publico servindo para comprar de forma espúria outros corruptos passivos pelo simples fato de deter poderes outorgados pelo povo para o defender. Mais triste ainda, pasmem, poderemos ver esses ladrões e corruptos, belos, formosos, ricos e LIVRES porque encobertos sob o manto da prescrição.  Assim fala o meu "feeling".
Após o falecimento da minha Carolina, em minhas noites solitárias, tenho dedicado-me às leituras jurídicas, políticas e românticas sendo o último dos livros o "guia politicamente incorreto da América latina" dos autores Leandro Narloch e Duda Teixeira. Nesse livro os autores descrevem o perfil do povo latino-americano e o por quê da América Latina ser composta de países tão díspares e com línguas diferentes. Nele afirmam de forma muito didática a receita que acreditam necessária para preparar um bom latino-americano - 1) lamentar - 2) encarar a cultura local como uma forma de resistência - 3) condenar o capitalismo - 4) denunciar a dominação externa - 5) cultuar heróis perversos. Nessa ultima receita dizem textualmente: "quanto mais bobagem eles falarem e quanto mais sabotarem seu próprio país, mais estatuas equestres e estampas em camisetas serão feitas em sua homenagem"
Aqui em nosso país também temos o nosso herói perverso bem atual porquanto "nunca jamais nesse país" se ouviu tanta bobagem, besteira e afronta a dignidade dos brasileiros quanto os discursos entusiasticamente aplaudidos pelos apaniguados e herdeiros da corrupção permitida por aquele que deveria zelar pela "res pública" de nossa pátria amada. Vejo, no entanto, uma leve luz no fundo do túnel com a exclusão dos corruptos descobertos pelo atual governo. Aplausos para a Presidente, no entanto, parece-me que isso só acontece porque isso rende aplausos do povo e a prova da desconfiança são os atos de desagravo público a mensaleiros notórios e quadrilheiros. Em novas lições falaremos mais sobre as outras corrupções e formas de corromper mais usuais e corriqueiras também em nossos "currais".

publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 537 - 16/09/2011 e DIÁRIO DE FRAIBURGO - ano I - nº 99 - 16/09/2011.