terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Os nossos sonhos ....

Como homem vindo da então vila dos Arroio Trinta, onde vivi a mais alegre das meninices, tendo sempre ao meu alcance o "bodoque" profissionalmente feito com a arte e a experiência do alto dos meus 5 a 10 anos de idade .... correndo pelas colinas verdejantes ... deslizando qual um "paraglider" dos tempos modernos, mas detentor da capacidade máxima de deslizar sentado sobre uma casca de coqueiro morro abaixo, atingindo velocidades incríveis ... lá ia eu na minha faceirice, pensando ser homem valente, herói de meus sonhos, deslizava ... deslizava ... deslizava, no entanto na maioria das vezes fugia-me a casca do coqueiro e lá se ia minha calça curta, suspensório de pano, sem cueca e a "bunda" toda raspada ao sangue.
Assim vivi, assim cresci ... seis anos de internado no seminário para formadores de padre ... tudo isso temperou meu caráter, fez-me homem, homem pronto para uma mulher chamada Carolina.
Juntos tivemos nossa primeira filha ... a Flavinha, amor de nossas vidas.
Esta foto é a representação do que éramos. Eu, homem simples, funcionário administrativo, com uma cultura acima dos padrões, após ter estudado 6 línguas, dentre as quais dois anos de grego, 6 anos de latim, lido todos os grandes clássicos da literatura brasileira, tudo forjado nos severos estudos do seminário. Nessa época era eu simples funcionário da Papelose hoje Trombini), mas com sonhos do tamanho do mundo. Fiz a promessa comigo mesmo, que meus filhos seriam como eu desejaria sempre ser. Gente simples mas com muito amor e esse amor pratiquei.
Serviria eu de cavalinho de transporte de minha filha, andando pelas campinas também verdejantes (no caso da Rua Campos Novos em Fraiburgo) onde residi nos anos 1968/1975.
Ai está a prova. A Flavinha andando com seu cavalinho, ambos felizes, um porque tinha uma boneca viva como filha, outra sendo criada com todo o amor de uma pai feliz e de uma mãe dedicada. Vida simples, de dinheiro contada aos centavos para passar o mês, amigos fiéis, verdadeiros e eternos porque a maioria daqueles amigos verdadeiros da época, os são os mesmos amigos dos dias de hoje.
Lembra-te minha filha amada, esse teu cavalinho continua firme, altaneiro, um pouco mais alquebrado pelos 72 anos, mas firme e com amor redobrado por ti.
Saibas minha filha Flavinha e amada. Um dia não mais estarei por aqui, mas saibas que esse mesmo espírito, hoje incorporado nessa carcaça careca, cabelos restantes brancos, dores por aqui e por ali, barriguinha mais saliente, será um espírito de tua guarda porque eterna será nossa ligação de amor entre eu, você, o espírito do Marcelão e da tua mãe que já nos cuidam no além, o Fernando e o Fredy continuaremos eternos porque eterno é nosso amor.
Deus te abençoe minha filha querida e quero dizer-te que adoro ser sempre o cavalinho desta foto andando pelos campos verdejantes da vida com a brisa fresca do teu amor em nossos rostos.