Participava eu de uma aula em curso de pós-graduação - Gestão e Direito Ambiental - em Florianópolis, e um professor, com Doutorado no Mercado Comum Europeu, longa experiência na arte de bem ministrar ensinamentos aliando o objetivo de transmitir cultura e, ao mesmo tempo, cativar a atenção dos pós-graduandos, apresentou esquete extremamente ilustrativo, lindo e com o poder de nos levar a pensar sobre a vida e a nossa pequenez ante a engrenagem do universo.
Trata-se de uma imagem partida de um local qualquer, de uma cidade qualquer, semelhante às que vemos nos nossos GPSs para localizarmos determinados endereços por imagem de satélite. A partir desse local a imagem amplia-se e distancia-se rapidamente, saindo do ponto visível para uma visão sempre mais distanciada, aparecendo montanhas, cidades, Brasil, globo terrestre, estrelas, distanciando-se cada vez mais, mais rápido, mais abrangente. Visão do espaço sideral, das estrelas, das galáxias ..... do universo em sua plenitude. Muito rapidamente, percebemos que a grandiosidade do nosso universo vai nos apequenando, mais e mais... Desaparecemos em meio às galáxias e ao final vemos um minúsculo ponto, somente detectado sob o auxílio de potentes lupas, que é o nosso mundo e dentro desse mundo imaginamo-nos com integrantes dessa maravilha que é o universo.
Fiquei eu pasmo, boquiaberto e assustado comigo mesmo ao ver o quanto é a minha pequenez, a minha insignificância ante a magnificência da obra de Deus.
Nós, seres humanos somo tão soberbos que nos imaginamos como o “rei do universo” como a criatura que tudo pode, tudo faz e tudo determina. Pobre ignorância, inútil empáfia, vil soberba.
O nosso meio nos molda soberbos, humildes, poderosos, insignificantes, simples ou ignorantes.
É no nosso meio que somos moldados para a vida, portanto, devemos sempre deixar de culpar as escolas, os nossos ambientes de trabalho, os nossos superiores pelos nossos defeitos porque esses são o resultado daquilo que moldamos para nós mesmos.
Pelo meu andar na vida, tenho visto pessoas tomadas pela soberba e pessoas que dão os maiores exemplos de vida simples, dignas e deixam seus espíritos totalmente desalinhados das veleidades da vida, da pequenez dos modismos e do fazer ou deixar de fazer em função do que pensam de nós
Tenho um grande amigo (sim, tenho, porque a sua morte não anula o nosso sentimento de bem querer) que foi cumprir sua missão na eternidade e aqui foi o retrato fiel da simplicidade personificada, anjo esse chamado DIRCEU ROMANO PANIZ.
Meu amigo Dirceu, obrigado por teres permitido que eu fosse teu amigo aqui na terra, obrigado por você ter participado de nossas vidas, dos meus amigos, dos teus familiares e do universo que te conheceu. Meu amigo querido, incontáveis a vezes que tenho meditado sobre você, analisado a peculiaridade que foi a tua vida como exemplo, como transformador das dificuldades em coisas simples. Sim, transformar as dificuldades em coisas simples, minúsculas ante os nossos olhos, acostumados a transformar a coisa simples em algo difícil, inatingível, impossível.
Você Dirceu foi o contrário daquilo que achamos difícil. Como foram bons os momentos que juntos brincamos, rimos, choramos. Sim momentos que juntos choramos porque eu o vi chorando muitas vezes quando falavas dos teus, quando vias a miséria alheia explorada por aqueles que deveriam ser os lenitivos dos aflitos. Eu o vi chorando quando falávamos das tuas doenças e da minha amada Carolina, aliás, inúmeras foram as vezes que falavas com emoção da guerreira que eu mais amei.
O Dirceu era a simplicidade personificada. No alto da sua doença falava claramente e ao bom som que não tinha medo da morte. Encarava a morte como uma realidade que iria acontecer na sua vida num tempo não muito distante. Dirceu trabalhou até os últimos dias da sua vida com a força daqueles que vivem eternamente. Até os últimos dias de sua vida planejava ampliação para sua empresa, sonhava com sua família unida, sonhava com sua neta, planejava um futuro lindo para o rebento da sua filha. Dirceu sonhava acordado mas com os pés plantados no chão. Seu olhar era fixo para o futuro, enxergava distante, alem das montanhas das dificuldades do momento, além das negras nuvens dos pessimistas. Digo-vos, cultos leitores, pouca gente conheci tão francos como o foi o amigo Dirceu. Tão franco era, que às vezes tornava-se grotesco porque as verdades brotavam do seu linguajar com a facilidade das crianças inocentes que sempre expressam a verdade. Dirceu dizia a verdade de forma espontânea, muitas vezes deixando boquiabertas as pessoas não afeitas a isso ou acostumadas a somente pensar a verdade sem a coragem de dize-las. Dirceu fazia questão absoluta de ser simples, de hábitos simples e orgulhava-se de sua simplicidade, no entanto transitava com plena desenvoltura nos meios mais sofisticados. Sim Dirceu nos deu a riqueza do exemplo de homem honesto, mostrando que a simplicidade é a virtude dos grandes homens. Dirceu vá ser a luz, siga o caminho dos justos porque esse foi o teu caminho aqui na terra.
publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 517 - 29.04.2011.
publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 517 - 29.04.2011.