Essa grande nave da vida continua singrando nos mares revoltos de um universo infinito onde o destino não existe e as perspectivas são o espectro de algo que se desenhou mas que jamais sairá para a realidade dos mundos.
Essa nave conduz todos nós, os felizes com olhares erguidos para o alto como os desgraçados que esculpiram suas vidas com os olhos sempre dirigidos para o baixio, para a penumbra e para a ausência de perspectivas. A felicidade de cada um é construída com o bater do cinzel de cada dia no duro granito da vida e sempre olhando na suave escultura do anjo que dela brotará um dia.
A infelicidade de cada um também é construída com o bater do cinzel de cada dia na dura pedra mas sempre olhando para as "cortiagudas" "ferpas" que aí são produzidas para feri-lo cada vez mais em sua faina de dor e de desgostos.
A vida nessa nave que singra pelos mares revoltos de uns dias e pelas mansas águas de dias outros traz em suas entranhas a essência da criação de Deus que é o homem em sua plenitude.
Nós os "com mais de sessenta" fazemos parte dessa nave porque somos o topo dessa criação de Deus. Nós, os "com mais de sessenta" somos o término desse bater do cinzel e somos a obra-prima saída dessa arte de viver uma vida em sua plenitude. Somos a essência do trabalho desse artífice da vida porque fomos sendo moldados pelo tilintar do cinzel do Grande Arquiteto do Universo. Sim, somos a essência porque somos o resultado final da criação divina em cuja faina sempre fomos moldados pelas têmperas do duro aço por que passamos em nossa juventude. Essa juventude também ansiosa como nos tempos hodiernos, mas sempre sabendo enfrentar a vicissitudes, enfrentando o aprendizado da vida sem a vergonha que caracteriza certa parte da juventude moderna, que, hoje, muitas vezes, envergonha-se de ter seu inicio vida em trabalhos menos glamurosos mas igualmente decentes.
Nós os "com mais de sessenta" precisamos perceber que deixamos rastos pela vida que muitos seguem. Somos, na maioria da vezes, os pioneiros que desbravaram os pântanos, somos os que, com certeza, conhecem muito bem agruras do caminhar por sobre as pedras dos íngremes caminhos. Sabemos muito do insosso sabor das águas salobras. Provamos a ácida umidade da ausência dos lenitivos para as dores, convivemos com a desgraça e cruzamos com a morte. Nós os "com mais de sessenta" não temos medo do inesperado, somos cúmplices da coragem.
Assim, nós, os "com mais de sessenta" podemos nos arvorar ao direito de olharmos, orgulhosos, nosso passado e sempre gritar aos altos brados - EU FIZ - EU REALIZEI - EU PRODUZI - EU FUI CONDUTOR DA FELICIDADE - EU FUI FELIZ E EU FIZ OUTROS FELIZES.
A todos os "com mais de sessenta" conclamo para que saiamos de nossas salas mal iluminadas, saiamos de nosso quartos mofados pelo nosso enclaustro transpirar, saiamos da mesquinhez de nossas vidas perdidas no tempo e partamos para a luz. Sim, partamos para a luz do nosso caminhar com a disposição dos grandes homens e mulheres que fomos, partamos para o brilho do magnifico dia que lá fora nos aguarda para nos apresentar os raios do arco-íris da vida, nos apresentar os magníficos matizes das cores da vida, nos apresentar a contagiante alegria dos inocentes, das crianças e dos animais que nos amam.
Digo-vos, amigos meus "com mais de sessenta" para todos a vida é bela, cada uma delas com as suas características próprias porque quando éramos jovens nossa vida era a melhor delas, quando éramos adolescentes nossa vida era a melhor delas, quando éramos adultos, nossa vida era a melhor delas. Façamos a nossa vida de idosos a melhor de todas as vidas. Deixemos de ter vergonha de sermos idosos, por que dizermos a "melhor idade"? Se assim dissermos estaremos mostrando nossa vergonha de sermos idosos. SIM, somo idosos, graças a Deus. Todas as idades são a melhor idade.
publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 522 - 03.06.2011 e no jornal DIÁRIO DE FRAIBURGO - ano I - nº 36 - 15.06.2011.