segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

CLODELCION BAHR – um amigo, uma saudade .....

Era um verão escaldante onde, os raios solares, produziam os efeitos da calorescência, gerando a indolência natural onde os corpos produzem suas defesas naturais com o suor como remédio a esse mal-estar.
Assim era um dos dias dos idos de 1964, quiçá de 1965, que aquele rapaz, funcionário da empresa Ponzoni & Brandalise e Cia Ltda., exímio operador da máquina “facit” fazendo os cálculos de todos os cartões-ponto no RH daquela organização.
Já descrente de seu crescimento naquela Organização, com o ânimo em baixa pelo calor, pela ressaca da noitada e pela falta de perspectiva, falou para sua amada que naquele dia pediria demissão daquele emprego enfadonho para buscar novas perspectivas, novos horizontes e, quem sabe, buscar o serviço de sua vocação. Vontade não lha faltava.  
Em sua viagem rumo a São Paulo, sem dinheiro, obrigou-se a parar em Fraiburgo, onde buscou um emprego. Na época o dono, o mandachuva da Papelose, num ato de empatia a primeira vista, admitiu esse jovem empregando-o no laboratório, aliás, precaríssimo laboratório. Agrado daqui, agrado dali, trabalho bem feito daqui, interesse pelo trabalho dali, horários de atravessar dias e noites no serviço foi segurando aquele jovem.... e ....  foi ficando, ficando .... e lá ficou por uma vida, naquela empresa que aos poucos foi sendo a sua empresa do coração, o seu segundo lar.
Os tempos passaram, a empresa recupera-se da difícil fase em que se encontrava até os anos de 1967 e aquele jovem, com um nome “sui generis”, um nome diferente – Clodelcion – ainda no ardor do amor recíproco com o seu patrão – Hugo – participou de um curso no IPT de São Paulo, onde aprendeu a teoria e a prática na fabricação de Celulose e de papel.
Clodelcion fez daquela fábrica o local de sua estada passando vários dias e várias noites ao redor das máquinas sem dormir e sem ir para casa. Depois do casamento sua amada Neusa logo acostumou-se com a ausência do marido e, mesmo ainda em lua de mel, não deixava a fábrica perecer porque sempre lá estava ele, encontrando as soluções – fazendo “gambiaras” quando necessárias, buscando funcionários nas suas casas, “varando” as madrugadas junto com o pessoal da manutenção, sempre tudo fazendo para que a fábrica não perdesse produção e porque tinha pleno conhecimento que hora da fábrica parada representava a diferença entre lucro e prejuízo.
A empresa passou pelos altos e baixos econômicos e Clodelcion lá estava administrando sua produção, ocorreram trocas de controles acionários e lá estava Clodelcion adaptando-se aos modos de comandos e de políticas empresariais, ocorreram troca de patrões e lá estava Clodelcion adaptando-se às novas maneiras de administração dos novos patrões.
Pois bem, digo-vos que acompanhei, “pari passu”, toda essa trajetória desse grande homem. Com o Clodelcion Bahr, à partir de Julho de 1967, juntos trilhamos os mesmos caminhos, juntos sofremos as mesmas angústias profissionais, juntos choramos resultados negativos mas também juntos sorvemos o sabor de muitas vitórias. Juntos conquistamos a confiança dos antigos e atuais proprietários da empresa da qual fizemos nossa empresa, fizemos nossa casa. Cada parafuso lá colocado foi o mesmo que o estivéssemos colocando em nossas casas, cada parede que lá era construída era o mesmo que a parede de nossos lares. Lá, cada trabalhador era o mesmo que nossos filhos e suas dores eram as nossas dores, cuidávamos de cada doente como nossos parentes queridos. Convivíamos em seus lares. Quantas casas tornamos habitáveis. Quantos remédios providenciamos, Quantas almas consolamos.
Nosso laser era junto com os companheiros trabalhadores com os quais, juntos, participávamos de todos os eventos da cidade. A AERPA e depois ART era nosso local de encontros diários com nossos companheiros de trabalho onde o “truco” era o nosso esporte favorito com grandes certames, grandes vitórias e grandes derrotas. Tornamo-nos campeões no roubo do truco. Juntos, Clodecion, eu e os trabalhadores da Papelose e da Facelpa, com promoções e rifas de inúmeros automóveis compramos áreas de terra, construímos sedes esportivas. Ah como era bom aquele tempo. Como era bom o convívio com esse espetacular companheiro Clodelcion. Digo-vos, amigos meus, convivi com o Clodelcion por um período de trinta anos sem atrito algum, viajávamos juntos no mesmo automóvel, dormíamos no mesmo quarto, ambos roncávamos pacificamente como poucos, trocávamos confidencias, nas minhas dificuldades era ele o primeiro a chegar e estar junto a mim, muito sofremos com as decisões duras que tínhamos que tomar nos momentos de crises mas eu sabia que sempre poderia contar com ele e ele sabia que em mim sempre tinha um amigo de coração.
Hoje, meu amigo Clodelcion, faz um ano que você foi ser mais um anjo nosso. Deus esteja contigo meu amigo, continue lembrando de mim, porque eu continuo precisando muito de você, Fica com Deus meu irmão porque eu te amo muito. Cuide da tua Neusa cuida das tuas filhas, do neto e das netas.

publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 513 - 01.04.2011.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Para meus filhos e meus netos com amor ......

Nós, seres humanos, trazemos conosco gravado em nossas almas o sentimento gregário de nossos unirmos em sociedade, cercando-nos dos nossos, nutrindo sempre mais os mais profundos sentimentos de amor recíproco onde os corações unem-se aos corações a almas cada vez mais arraigam-se aos seus.
Assim somos nós. Quando moço, encontrava-me eu na solidão de meus sonhos de jovem que almejava formar uma família linda, plena de sentimentos cristãos, com condições financeiras que nos permitissem ter uma vida de gente simples mas feliz. O tempo passou, a Carolina passou por minha vida como uma suave nuvem inebriante, levando-me para o caminho do amor profundo e da paz de espírito. O tempo passou e duas almas se uniram numa paixão mantida pelo amor verdadeiro que nos envolveria por meio século de mútuo respeito e mútua admiração.
Disso, meus filhos já tem conhecimento, no entanto, aos meus netos tenho a dizer que a minha união com vossa querida avó foi uma união de espírito e de mútuo conhecimento, onde o amor foi a grande tônica. Quero dizer a vocês, meus netos queridos, (naturalmente que esse termo é genérico, porquanto inclusa minha neta amada) que em próximo a quarenta e dois anos de casados eu nunca deixei de beijar a minha esposa querida ao sair de casa, no meu retorno, quando das viagens e das voltas aguardadas ansiosamente pela minha querida Carolina.
Digo-vos meus netos queridos que nesses quase quarenta e dois anos de união minha com a nossa amada Carolina eu jamais deixei de dar-lhe um presente no dia do seu aniversário, no dia da mulher, no dia da mãe, no dia de natal ou mesmo da páscoa, sempre lembrei-me da minha querida com flores e presente no dia dos namorados, e, meus queridos netos, sempre tive o presente maior e que eu mais esperava que era o seu beijo apaixonado, em retribuição aos meus carinhos. Jamais esquecerei, meus queridos, seu jeitinho meigo de aproximar-se de mim e, bem pertinho do meu corpo, achegava-se ela, erguia seu rosto e, com os olhos fechados, beijava apaixonadamente em retribuição à minha demonstração de amor.
Digo-vos mais meus netos, sempre assim o fizemos, mesmo nos momentos de rusgas naturais entre casais, beijando-nos reciprocamente quando saiamos ou voltávamos para casa.
Digo-vos meus netos que nos momentos difíceis da vossa avó, lá sempre estava eu em primeiro lugar para junto participar da sua dor, para levar o lenitivo da minha presença, para mostrar a ela que jamais estaria sozinha. Digo-vos meus netos que nos mais de seis anos de sua fatídica enfermidade sempre estive eu presente levando-a para os médicos, levando-a para os exames, acompanhando em suas quimioterapias, transfusões, cirurgias, internamentos, exames. Em absolutamente todos esses eventos sempre fiz a mais absoluta questão de a levar, de a acompanhar de estar ao seu lado para anima-la, dar-lhe forças e dar-lhe a demonstração de amor.
A avó, meus queridos netos terminou seu tempo aqui na terra e foi ser o nosso anjo no céu. Agora podemos falar que nós temos mais um anjo a olhar para nós e por nós intervir junto a Deus. Digo-vos meus netos que ser arrancada da minha convivência aquela que eu muito amava está sendo a coisa mais difícil de conviver nessa nova fase de minha vida. A vida a sós.
Digo-vos meus netos amados que, em minha solidão, em minha casa, fico horas simplesmente de olhos fixos naquele porta-retratos digital onde as fotos da minha querida Carolina vão sucedendo-se nas mais de duzentas fotos preparadas especialmente para que não nos esqueçamos nunca daquela que muito nos amou.
Podeis ter a mais absoluta certeza, meus netos, que a avó Carolina sempre será meu único amor como mulher e como companheira.
O mundo, no entanto faz suas engrenagens girarem e nós devemos seguir com nossas vidas para cumprirmos nossa missão na terra até terminarmos nosso tempo e assim é que estou fazendo, procurando cumprir plenamente minha missão aqui na vossa companhia, na companhia de meus filhos, dos meus amigos e das minhas amigas.
Digo-vos mais, atualmente, os meus amigos e minhas amigas estão sendo o meu sustentáculo para eu não entrar na mais profunda das depressões. Digo-vos que a presença dessas pessoas são minhas grandes bengalas de sustentação e com as quais procuro dividir minhas horas de lazer em minhas própria casa, na casa deles ou mesmo em locais de diversão pública. Estarei muitas vezes acompanhado de amigos, mulheres amigas, para juntos nos divertirmos e espantarmos nossas depressões. Assim, meus diletos netos e filhos, espero que me entendam e vejam isso como o encontro de uma maneira de sobreviver e espantar a minha solidão. Beijos a vocês e que Deus vos dê sempre a virtude e a capacidade de entender certas atitudes minhas. Que Deus vos abençoe.