Era um verão escaldante onde, os raios solares, produziam os efeitos da calorescência, gerando a indolência natural onde os corpos produzem suas defesas naturais com o suor como remédio a esse mal-estar.
Assim era um dos dias dos idos de 1964, quiçá de 1965, que aquele rapaz, funcionário da empresa Ponzoni & Brandalise e Cia Ltda., exímio operador da máquina “facit” fazendo os cálculos de todos os cartões-ponto no RH daquela organização.
Já descrente de seu crescimento naquela Organização, com o ânimo em baixa pelo calor, pela ressaca da noitada e pela falta de perspectiva, falou para sua amada que naquele dia pediria demissão daquele emprego enfadonho para buscar novas perspectivas, novos horizontes e, quem sabe, buscar o serviço de sua vocação. Vontade não lha faltava.
Em sua viagem rumo a São Paulo, sem dinheiro, obrigou-se a parar em Fraiburgo, onde buscou um emprego. Na época o dono, o mandachuva da Papelose, num ato de empatia a primeira vista, admitiu esse jovem empregando-o no laboratório, aliás, precaríssimo laboratório. Agrado daqui, agrado dali, trabalho bem feito daqui, interesse pelo trabalho dali, horários de atravessar dias e noites no serviço foi segurando aquele jovem.... e .... foi ficando, ficando .... e lá ficou por uma vida, naquela empresa que aos poucos foi sendo a sua empresa do coração, o seu segundo lar.
Os tempos passaram, a empresa recupera-se da difícil fase em que se encontrava até os anos de 1967 e aquele jovem, com um nome “sui generis”, um nome diferente – Clodelcion – ainda no ardor do amor recíproco com o seu patrão – Hugo – participou de um curso no IPT de São Paulo, onde aprendeu a teoria e a prática na fabricação de Celulose e de papel.
Clodelcion fez daquela fábrica o local de sua estada passando vários dias e várias noites ao redor das máquinas sem dormir e sem ir para casa. Depois do casamento sua amada Neusa logo acostumou-se com a ausência do marido e, mesmo ainda em lua de mel, não deixava a fábrica perecer porque sempre lá estava ele, encontrando as soluções – fazendo “gambiaras” quando necessárias, buscando funcionários nas suas casas, “varando” as madrugadas junto com o pessoal da manutenção, sempre tudo fazendo para que a fábrica não perdesse produção e porque tinha pleno conhecimento que hora da fábrica parada representava a diferença entre lucro e prejuízo.
A empresa passou pelos altos e baixos econômicos e Clodelcion lá estava administrando sua produção, ocorreram trocas de controles acionários e lá estava Clodelcion adaptando-se aos modos de comandos e de políticas empresariais, ocorreram troca de patrões e lá estava Clodelcion adaptando-se às novas maneiras de administração dos novos patrões.
Pois bem, digo-vos que acompanhei, “pari passu”, toda essa trajetória desse grande homem. Com o Clodelcion Bahr, à partir de Julho de 1967, juntos trilhamos os mesmos caminhos, juntos sofremos as mesmas angústias profissionais, juntos choramos resultados negativos mas também juntos sorvemos o sabor de muitas vitórias. Juntos conquistamos a confiança dos antigos e atuais proprietários da empresa da qual fizemos nossa empresa, fizemos nossa casa. Cada parafuso lá colocado foi o mesmo que o estivéssemos colocando em nossas casas, cada parede que lá era construída era o mesmo que a parede de nossos lares. Lá, cada trabalhador era o mesmo que nossos filhos e suas dores eram as nossas dores, cuidávamos de cada doente como nossos parentes queridos. Convivíamos em seus lares. Quantas casas tornamos habitáveis. Quantos remédios providenciamos, Quantas almas consolamos.
Nosso laser era junto com os companheiros trabalhadores com os quais, juntos, participávamos de todos os eventos da cidade. A AERPA e depois ART era nosso local de encontros diários com nossos companheiros de trabalho onde o “truco” era o nosso esporte favorito com grandes certames, grandes vitórias e grandes derrotas. Tornamo-nos campeões no roubo do truco. Juntos, Clodecion, eu e os trabalhadores da Papelose e da Facelpa, com promoções e rifas de inúmeros automóveis compramos áreas de terra, construímos sedes esportivas. Ah como era bom aquele tempo. Como era bom o convívio com esse espetacular companheiro Clodelcion. Digo-vos, amigos meus, convivi com o Clodelcion por um período de trinta anos sem atrito algum, viajávamos juntos no mesmo automóvel, dormíamos no mesmo quarto, ambos roncávamos pacificamente como poucos, trocávamos confidencias, nas minhas dificuldades era ele o primeiro a chegar e estar junto a mim, muito sofremos com as decisões duras que tínhamos que tomar nos momentos de crises mas eu sabia que sempre poderia contar com ele e ele sabia que em mim sempre tinha um amigo de coração.
Hoje, meu amigo Clodelcion, faz um ano que você foi ser mais um anjo nosso. Deus esteja contigo meu amigo, continue lembrando de mim, porque eu continuo precisando muito de você, Fica com Deus meu irmão porque eu te amo muito. Cuide da tua Neusa cuida das tuas filhas, do neto e das netas.
publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 513 - 01.04.2011.
publicado no jornal O CATARINENSE - ano XI - nº 513 - 01.04.2011.